Hublot - Baselworld 2009Entrevista com Jean-Claude Biver
06 de maio de 2009
Basel, Suíça - 28/03/2009
Jean-Claude Biver é um empreendedor de personalidade exuberante e extrovertida, que se tornou CEO da Hublot em Junho de 2004. Sob sua gestão, a Hublot experimentou um sucesso estrondoso e um crescimento exponencial.
Durante Baselworld 2009, Jean-Claude Biver recebeu a equipe de Relógios & Relógios para uma agradável entrevista na qual estiveram presentes temas como inovação e futebol, parcerias e relógios.
Relógios & Relógios: Hublot é uma marca famosa pela inovação. A primeira marca a introduzir pulseiras de borracha em relógios de luxo, a fusão de materiais... O que podemos esperar da Hublot em termos de inovação daqui para frente?
Jean-Claude Biver: Esta é uma questão difícil porque se eu lhe disser as próximas inovações, as pessoas saberão o que está por vir. E eu quero que todos me sigam, não quero que os outros lancem o mesmo produto que eu ao mesmo tempo. Prefiro que eles tenham o mesmo produto, mas 6 meses depois. Se você está à frente e todos te seguem, você é o primeiro, e se alguns meses mais tarde todos fazem o mesmo isto é muito bom, porque te põe na liderança. Se eu lhe disser agora, todos irão ler e usarão o mesmo novo material, e eu serei igual aos outros. Então eu nunca lhe direi o que está por vir. Não porque eu não goste de você (risos), mas porque essa é a minha política. Então, vocês podem esperar da Hublot no futuro outros importantes aspectos de fusão, outras cores diferenciadas, outros importantes materiais e novos desenvolvimentos em movimentos. Quais? Eu não direi a vocês...
R&R: Vocês estão trabalhando em um novo movimento de manufatura, não estão?
JCB: Nós temos um novo movimento 100% "in-house" (HUB1240) que irei mostrar-lhes depois. Ele está na série "00", ainda não está otimizado. Quando você cria um movimento, você faz o projeto e o faz trabalhar no computador. Então, produz 500 movimentos e os monta. Você então o vê funcionar, mas percebe que seria melhor se você mudasse isso ou aquilo... Então você tem de fazer mudanças. Nós agora estamos nesse processo. A série 00 de protótipos com 500 peças já foi feita, agora estamos trabalhando na série 01. Faremos mudanças, novos testes, e após as otimizações necessárias continuaremos. Os primeiros 1.000 movimentos estarão montados e acabados em Fevereiro próximo.
R&R: Então ele estará pronto para a próxima Baselworld?
JCB: Sim, ele deve estar! (O Sr. Biver bate três vezes na madeira).
R&R: Vocês recentemente lançaram um novo modelo Ayrton Senna em parceria com o Instituto Ayrton Senna...
Nós temos uma parceria que espero que dure por muitos anos. Não é uma parceria para uma ou duas edições limitadas; é uma parceria de pessoas. Viviane Senna, Bruno Senna e o Instituto não são nossos parceiros de negócios, nós somos verdadeiramente amigos. Nós compartilhamos diversos valores.
Nós também somos associados a entidades de caridade que cuidam de crianças na Índia e no Oriente Médio. E temos a parceria com Viviane e o Instituto Ayrton Senna que cuida de crianças no Brasil. Então, compartilhar e auxiliar é um conceito que sempre procuramos desenvolver e promover. Isto faz parte de nossa cultura. Já temos a primeira e a segunda edição; espero que possamos ir até a edição 50... Nós pretendemos lançar um novo modelo a cada ano. O ultimo relógio foi belíssimo, e o próximo também será fantástico.
As parcerias sempre deveriam ser duradouras. É como na vida, as pessoas deveriam permanecer casadas para sempre; se você as casa com uma pessoa, depois com outra e outra - não é a melhor solução. Nós procuramos parcerias duradouras. E para isto, não pode ser baseada apenas em dinheiro, pois o dinheiro não pode resistir a longo prazo. Amor e coração podem. O dinheiro não é tudo. Parcerias em que se ganha dinheiro são ótimas, por que não, mas ele não é suficiente. Uma parceria duradoura deve ser baseada em relações humanas, em compartilhar mentalidades, filosofias, valores e ética. Se então vem o dinheiro, então está ótimo.
R&R: Hublot foi a primeira marca de relojoaria de luxo a patrocinar o futebol, com a Eurocopa e o Manchester United. Vocês pretendem incrementar estes patrocínios?
JCB: Não, não pretendemos. No futebol, queremos ser parceiros apenas de eventos, clubes e pessoas que nunca perdem. A Eurocopa nunca perde; a Suíça pode perder, jogando a Eurocopa. Mas o evento nunca perde, ele sempre vence, é sempre um sucesso. Uma Copa do Mundo nunca perde. O Manchester United, bem, é melhor que eles vençam as partidas, mas se eles perdem isto não importa porque ele é uma lenda. No Brasil, Pelé não precisa jogar futebol; ele continua tão bem sucedido como antes. Maradona não precisa jogar futebol, ele sempre será popular; ele nunca perde. Portanto nós queremos associar a Hublot apenas com vencedores, que nunca perdem.
O F. C. Barcelona é um vencedor de hoje, ano que vem eles podem perder. O Manchester United nunca perde porque esta equipe se tornou uma lenda. É como o Boca Juniors, ele não perde, é uma instituição. Portanto, Boca Juniors e Manchester são excelentes para a Hublot, e não a Juventus, Bayern, Barcelona, Inter, etc.; boas equipes, gosto delas, mas estas equipes não são instituições como o Manchester United e o Boca Juniors. Então queremos estar associados ao Manchester e eventualmente ao Boca Juniors. Quanto a eventos, nós queremos estar na Eurocopa e na Copa do Mundo. E eventualmente com algumas lendas vivas como Pelé e Maradona, por que não? Mas ainda não sei, temos que pensar sobre isso.
Então, o futebol é muito importante para nós. Nós realmente acreditamos nele. Talvez no Brasil o futebol seja diferente de outros países. No Brasil, eu não sei que pessoas estão interessadas no esporte. Na Europa, temos todos os políticos importantes, empreendedores, celebridades; todos eles estão presentes no futebol. Assim, o futebol é muito popular entre a elite. Talvez no Brasil ele seja mais popular entre as pessoas mais pobres, mas eu posso estar errado. Talvez seja o mesmo, não sei ao certo.
Então esta é a razão pela qual estamos no futebol. Todos no topo gostam do esporte. Naturalmente há uma parte dos apreciadores que não podem comprar nossos relógios, mas isto não importa. O importante é que todos saibam que Hublot é um bom relógio, mesmo que nem todos possam comprar nossos relógios.
Nós estamos muito felizes com o futebol, especialmente porque ninguém mais o está patrocinando.
R&R: Como o Sr. vê o desenvolvimento do mercado brasileiro para a Hublot?
JCB: Fantástico! Graças aos relógios, graças a Ayrton Senna, graças aos nossos revendedores. É um mercado muito difícil, devido aos altos impostos de importação. Mas pode se tornar o maior mercado na América Latina.
R&R: Sabemos que, devido aos impostos, muitos clientes compram relógios em outros países quando viajam. Com isso, os números das exportações para o Brasil não correspondem à realidade.
JCB: Sim, eles não são reais. Nós poderíamos multiplicá-los por várias vezes. O Brasil é um grande mercado para nós. Nós vendemos mais relógios na América Latina do que na América do Norte. O México é hoje o mais importante mercado individual na região. A Argentina é excelente, também. Nós temos com Rick De La Croix, da DLC Trading, nosso distribuidor para a América Latina, mais que uma parceria; é uma verdadeira amizade.
R&R: Acreditamos que o mais importante lançamento da Hublot este ano seja o King Power. O Sr. poderia fazer a gentileza de nos apresentá-lo?
JCB: Sim, naturalmente.
O Sr. Biver gentilmente nos apresentou o King Power em Zircônio e um protótipo do novo movimento in-house Hublot. A versão em ouro rosa e cerâmica do King Power não estava disponível naquele momento, infelizmente.
R&R: Para encerrar, uma curiosidade: soubemos que o Sr. também produz queijo...
JCB: Sim, seu nome é Biver... Fiz 5.000 quilos, mas não é para a venda, é apenas um presente para os meus amigos. Eu lhes darei um pedaço. É o melhor queijo da Suíça, e não sou eu quem está dizendo... (risos)