Audemars PiguetUma visita à Manufatura de Le Brassus - Parte I
03 de outubro de 2011
Relógios & Relógios, na pessoa de seu Editor, César Rovel, teve a honra de estar entre os 8 jornalistas brasileiros convidados para uma visita à Audemars Piguet, na Suíça, nos dias 22 e 23 de Agosto.
A "Brazilian Press Trip 2011" incluiria escalas em Le Brassus, sede da Manufatura, Le Locle, onde se encontra a Audemars Piguet Renaud & Papi, e Genebra, onde está localizada uma das boutiques exclusivas da marca.
Chegando à Suíça
Tendo partido de Curitiba no dia 20 de Agosto, e após escalas em São Paulo e Zurique, chegamos a Genebra na tarde do dia 21, onde ficamos hospedados no Starling Hotel & Conference Center.
Na companhia de Natalia Rotman, Diretora de Marketing da Audemars Piguet para América Latina e Caribe, na manhã do dia 22 uma van nos conduziu a Le Brassus, no idílico Vallé de Joux, um dos berços da tradicional relojoaria Suíça.
Após deixarmos nossa bagagem no Hotel des Horlogers, que pertence à Audemars Piguet, nos encontramos com Michel Golay, que seria o atencioso guia durante toda a nossa estada.
A Oficina de Restauração
A visita teve início na oficina de restauração da Audemars Piguet, onde fomos recebidos por Francisco Pasandin, um grande mestre no restauro de relógios antigos e complicados. A oficina tem a capacidade de realizar pequenos milagres, como a reconstrução de gongos de repetidores de minutos.
Francisco nos mostrou como são realizadas a delicada produção e a afinação dos gongos dos mecanismos de "sonnerie", uma tarefa que muito poucos artesãos são capazes de realizar, por exigir muita técnica e também um treinado ouvido musical.
Todos os relógios que chegam à oficinas são meticulosamente analisados e um estudo é feito para a elaboração de um orçamento. Aceito ou não, este é sempre cobrado do cliente, pois sempre envolve muitas horas de trabalho.
A Audemars Piguet possui o registro de todos os relógios vendidos desde a sua fundação, em 1875, e na oficina de restauração existe um arquivo onde são preservados todos os calibres já produzidos pela manufatura, desmontados. As peças são utilizadas como modelos para a produção de peças novas, a serem utilizadas no processo de restauro.
Infelizmente, segundo Francisco, alguns relojoeiros "preguiçosos" utilizaram, no passado, algumas das peças originais preservadas, o que acarreta em uma maior dificuldade na reconstrução de determinados mecanismos.
Francisco estima que 80% dos problemas nos relógios que chegam à oficina são causados pela imperícia de relojoeiros durante a sua manutenção, o que enfatiza a importância da realização de serviços apenas em assistências técnicas autorizadas pela marca.
Os relógios complicados restaurados, que podem ser da Audemars Piguet ou de outras marcas, recebem um livreto que conta toda a sua história, que por si só já se constitui em um documento de valor inestimável.
Francisco nos contou que a oficina conta com relojoeiros de 5 diferentes nacionalidades, e que a maior prova de perícia é a montagem de um relógio extraplano, uma tarefa de excepcional dificuldade, devido ao pouco espaço disponível para o trabalho.
Encontro com Octavio Garcia
Encerrada a visita à oficina de restauração, assistimos a uma apresentação da atual coleção da Audemars Piguet, realizada por Octavio Garcia, Diretor de Criação da manufatura, e o Diretor de Marketing Tim Sayler.
Um dos pontos que abordamos com Octavio foi o grande número de comentários que se ouve a respeito das sucessivas edições limitadas do modelo Royal Oak Offshore, e ele nos disse que tem plena consciência disso. A marca está repensando sua estratégia de modo a evitar um maior desgaste da imagem do modelo.
Tim Sayler nos disse que a produção atual da Audemars Piguet está entre 27 e 30 mil peças ao ano, e o seu maior mercado é Hong Kong. Segundo ele, a marca não busca o crescimento em volume, mas sim um incremento da já notável qualidade de seus produtos.
Almoço com Philippe Merk
Nos despedimos de Octavio e Claudio e nos dirigimos ao Hotel des Horlogers, onde almoçamos na companhia de Philippe Merk, o CEO da Audemars Piguet desde 1o de Janeiro de 2009.
O Sr. Merck nos deu as boas-vindas e compartilhou conosco todo seu entusiasmo pela condução de uma das mais veneráveis manufaturas relojoeiras Suíças, o que para ele é motivo de um grande orgulho.
A Manufacture des Forges
Após o almoço caminhamos até a nova Manufacture des Forges, inaugurada no ano de 2009 e que atende às exigências da certificação suíça Minergie-ECO®, o que se traduz em conforto para os usuários e economia de energia no seio de uma construção amigável e ecológica.
Um dos seus destaques é o fato de que ela dispensa a climatização, uma grande consumidora de energia, ao utilizar um sistema de recirculação de ar. Para maiores detalhes sobre a nova manufatura Audemars Piguet, recomendamos a leitura do seguinte artigo:
Percorremos interessantes oficinas, como aquela onde são produzidos os mostradores da linha Royal Oak e a sua famosa decoração "Mega Tapeçaria". Vale a pena lembrar que o Royal Oak é considerado o primeiro relógio de luxo esportivo produzido em aço.
Lançado originalmente no ano de 1972, seu desenho é uma obra-prima do lendário designer relojoeiro Gérald Genta, recentemente falecido.
Na oficina Equação do Tempo são produzidos modelos com complicações astronômicas, capazes de indicar a diferença de tempo entre a Hora Solar Real e Hora Civil, além das horas do nascer e do pôr do Sol. Como essas indicações variam em função da localização no globo, o mecanismo é personalizado de acordo com o local de residência de seu dono.
Pudemos também acompanhar a esqueletização de mecanismos, onde todo o material que não seja estrutural e funcionalmente necessário a um mecanismo é cuidadosamente retirado, para a produção de uma obra de arte que possibilita uma íntima visão de todo o interior do movimento.
Na oficina de carbono forjado, pudemos observar o modo como minúsculos filamentos de carbono são transformados em robustas caixas de relógios, utilizando uma tecnologia inédita na indústria relojoeira.
Para maiores detalhes sobre a tecnologia do carbono forjado utilizada pela Audemars Piguet, recomendamos a leitura do seguinte artigo:
Tivemos então um encontro com Pascal Narbeburu, Diretor Industrial da manufatura, que focou a ênfase na qualidade do produto e na satisfação dos desejos do cliente, frutos de um vigoroso trabalho em equipe de todos os setores envolvidos na produção dos relógios Audemars Piguet.
Perguntamos a Pascal se a Audemars Piguet tem intenção de produzir espirais do balanço próprias, já que este é um componente bastante sensível para a afirmação da independência de uma manufatura. Segundo ele, a marca realiza estudos para verificar a sua viabilidade, mas não entrou em maiores detalhes.
Atualmente, como a grande maioria dos fabricantes Suíços, a Audemars Piguet ainda tem a produção de espirais terceirizada.
Na saída da Manufatura, conhecemos uma réplica da Cápsula do Tempo que foi enterrada quando do início da construção do novo prédio, ao lado dos objetos que foram nela encerrados, como um relógio Royal Oak, um de seus mais emblemáticos modelos, e uma moeda de Franco Suíço.
O Museu Audemars Piguet
A próxima parada seria o Museu Audemars Piguet. Ele nos conduz a um mergulho na história da manufatura fundada no ano de 1875, e que ainda é dirigida por descendentes das famílias fundadoras.
Além de peças históricas, agrupadas de acordo com o seu tipo de complicação, como por exemplo calendários ou "sonneries", estão expostas muitas ferramentas antigas, que remetem aos primórdios da manufatura.
Deixamos o Museu e retornamos ao Hotel, de onde após um breve período de descanso uma van nos conduziu ao Restaurant Du Lac, em Le Pont. Lá degustamos especialidades na cozinha Suíça, como o famoso Filet de Perche, filés de um pequeno peixe dos lagos da região, acompanhadas de vinhos Suíços.
Após o jantar, Michel Golay nos brindou com legítimos charutos Cohiba, em uma série especialmente produzida para a Audemars Piguet. Uma especialidade capaz de agradar ao mais exigente dos conhecedores.
Na manhã do dia seguinte nos despedimos de Le Brassus e partimos rumo a Le Locle, onde seríamos recebidos por Giulio Papi, o gênio relojoeiro fundador da Renaud & Papi, atualmente Audemars Piguet Renaud & Papi.