quarta-feira, 15 de Julho de 2009

O tempo num relógio convencional é quase sempre apresentado de forma analógica circular: um mostrador e dois (ou três) ponteiros com a hora a ser indicada numa escala circular num ciclo perpétuo. Contudo, esta representação do tempo em 360° vai contra tudo o que aprendemos desde a infância, quando desenhávamos uma linha recta numa folha em branco e marcávamos o Passado, o Presente e o Futuro. Por que razão percepcionamos então o tempo como se nos movimentássemos numa linha recta, mas acabamos por o apresentar num ciclo circular ininterrupto? A resposta é simples: os mecanismos que se movimentam continuamente em circulo são muito mais simples de construir do que aqueles que traçam uma linha recta com a inerente e imperiosa necessidade de regressar a zero. De facto, estes últimos são tão difíceis de conceber que, até agora, ninguém foi capaz de colocar em produção um relógio de pulso com indicações retrógradas lineares reais.

O UR-CC1 “King Cobra”

Ninguém, até que Felix Baumgartner e Martin Frei apresentaram o resultado de três anos de pesquisa, desenvolvimento, produção e testes: o UR-CC1 “King Cobra”, um relógio com duas indicações horizontais dispostas sobre dois cilindros retrógrados: um para as horas (saltantes), o outro para os minutos.

Mas não nos devemos deixar iludir pela aparente simplicidade destas indicações; o UR-CC1 necessitou de um enorme esforço de engenharia micro mecânica de maneira a assegurar que a rotação e o retorno instantâneo dos grandes cilindros das horas e dos minutos fossem obtidos sem comprometer ou influenciar a sua precisão.


A came tripla

A came tripla vertical que acciona um rack dentado (visível através de uma abertura localizada na lateral da caixa) impulsiona o cilindro dos minutos. De zero a 60 minutos, este cilindro roda 300°. Ao chegar à marca dos 60 minutos o cilindro regressa instantaneamente (no espaço de 1/10 de segundo) à sua posição original graças a uma mola linear extra-plana. O movimento retrógrado do cilindro dos minutos acciona o cilindro das horas que avança (salta) uma hora completa.

A came tripla foi construída numa liga de bronze e berílio, uma mistura seleccionada pelas suas inerentes propriedades auto-lubrificantes e baixo coeficiente de atrito, e que tem a forma de três pequenos declives. A forma precisa da curva do declive é transmitida ao rack pivotante, à medida que os dentes na extremidade deste rack engrenam com o cilindro dos minutos e o movimentam. A came tripla completa assim uma rotação a cada três horas, de maneira a que um dos três declives seja percorrido a cada 60 minutos. Foram calculados 180 pontos de referência para cada uma das três cames de maneira a assegurar a rotação do cilindro dos minutos com precisão e isocronismo.

Segmento dentado

O Segmento dentado na extremidade da came transfere e transforma o movimento da came na rotação circular do cilindro dos minutos. O rack dentado apresenta duas propriedades que a princípio parecem contraditórias: rigidez absoluta, para transmitir com precisão o movimento da came ao cilindro dos minutos, e uma massa inércial extremamente baixa de maneira a consumir o mínimo de energia possível e minimizar os efeitos da gravidade e das acelerações ou choques. Este componente vital foi fabricado pela Mimotec através de um processo foto litográfico. A estrutura em ninho de abelha resolve as duas exigências aparentemente contraditórias de uma máxima resistência para um peso mínimo.


O disco de segundos

O mostrador do UR-CC1 é animado por um disco rotativo que apresenta os segundos de forma digital e linear – uma novidade mundial! Esta proeza foi alcançada graças à técnica de produção foto litográfica da Mimotec, um método ainda mais preciso do que a habitual eléctro-erosão por arco eléctrico. Para reduzir a massa a um valor mínimo absoluto, os minúsculos números foram ainda esqueletizados. Uma pequena placa aos 10 segundos com o logótipo da Urwerk equilibra de forma precisa o disco dos números individuais. Esta maravilha da micro mecânica pesa apenas 0,09 gramas.


O rotor Fly Brake

O UR-CC1 inclui um sistema pneumático (travão aerodinâmico) de absorção de choques da massa oscilante da carga automática baptizado com o nome de Rotor Fly Brake. Exclusivo da Urwerk, este sistema minimiza o desgaste do rotor e do seu mecanismo e apoios, para além de evitar quaisquer danos provenientes de choques e movimentos bruscos. O funcionamento do Rotor Fly Brake é visível através de uma abertura localizada na lateral da caixa.


UR-CC1 – Especificações Técnicas

Caixa: disponível em ouro branco com fundo em titânio (edição limitada a 25 peças) ou ouro negro com fundo em titânio (edição limitada a 25 peças), com acabamento acetinado.
Movimento: calibre UR-CC1, de corda automática, regulado pelo sistema de absorção de choques pneumático denominado “fly brake turbine”
Indicações: apresentação linear das horas e dos minutos com horas saltantes e minutos retrógrados; indicação de segundos digital e linear.
Dimensões: 45,7 mm x 43,5 mm x 15 mm
Mostrador e pontes: ARCAP P40, com SuperLuminova nos indicadores das horas e dos minutos

Até o momento, ainda não foram definidos os preços de venda para este UR-CC1.


A Génese de uma criação

1958

Gilbert Albert e Louis Cottier unem os seus talentos na criação de um relógio destinado a revolucionar o mundo da relojoaria. A sua ideia é completamente extravagante: o primeiro relógio do mundo a apresentar uma indicação linear. Esta seria uma peça extraordinária de vanguarda que não seguiria nenhum dos critérios estéticos vigentes na época. A ideia da indicação linear podia parecer simples, mas a sua execução foi um desafio técnica de proporções monumentais. No entanto, Albert e Cottier acreditavam neste conceito e acabaram por criar um protótipo para a Patek Philippe.

1959

Uma patente foi registada por Louis Cottier, detalhando a escala técnica desta invenção. Mas estranhamente o projecto acabou por ser abandonado desconhecendo-se se o modelo era funcional. O modelo ocupa actualmente um lugar de destaque no museu da Patek Philippe em Genebra, e continua a despertar a curiosidade de todos.

1998

Munido de lápis e papel, Martin Frei, co-fundador e designer da Urwerk, traça os primeiros contornos da sua futura criação: um relógio no qual as horas e os minutos são indicados por duas linhas rectas paralelas. Mas ele hesita. Com Felix Baumgartner, mestre relojoeiro e igualmente co-fundador da Urwerk, outra ideia vem à mente – o conceito da hora satélite, apresentado pela primeira vez em Basel e na qual assenta a actual colecção da marca. O projecto anterior é adiado, sine die.

2006

A Urwerk é reconhecida pelos seus relógios mecânicos, nos quais um grupo de três satélites orbitais de horas indicam também os minutos. Mas a ideia de desenvolver modos diferentes de indicar o tempo continua a fascinar Felix Baumgartner. Finalmente, é o filme “Os Pássaros” de Alfred Hitchcock que lhe dá o empurrão decisivo na direcção certa. Numa das cenas mais famosas do filme, a actriz principal procura refúgio num velho Dodge. A imagem dura poucos segundos mas é crucial – um “close-up” do painel do velocímetro revela um estilo de indicação linear. Sim, é isto! Uma linha continua para marcar o tempo. Felix e Martin começam a trabalhar intensamente neste novo projecto, e a sua pesquisa leva-os a descobrir o relógio de Gilbert Albert e Louis Cottier. O modelo seria a sua “musa” inspiradora.

2009

Três anos de pesquisa e um ano de testes depois. O Urwerk “King Cobra” é apresentado. ‘CC’ de Cottier Cobra, uma homenagem ao génio de Louis Cottier, inventor e criador. Mais uma vez, a Urwerk redefine a sua visão da alta relojoaria e expande as suas fronteiras.


”Interesso-me pela percepção do tempo. Os Físicos dizem-nos que o tempo pode ser distorcido ou expandido, e que as nossas experiências diárias se baseiam nos ciclos circulares dos dias, das estações e dos anos. Mas eu também fico fascinado com a ideia de que o tempo pode ser ordenado, ou mesmo aprisionado, de maneira a fluir numa direcção linear – uma linha recta a partir do passado, através do presente, até o futuro. E como isso pode representar a linha da vida de um indivíduo, sinto que este formato linear pode ser uma maneira bastante humana de se observar o tempo. Além disso, acho que a sua aparência é muito bela!”

Martin Frei

”Não sou muito dado à nostalgia, mas sempre gostei dos velocímetros lineares dos carros antigos. O meu irmão mais velho teve um Volvo dos anos 1960, e foi ele que nos deu a primeira ideia de uma indicação linear do tempo. Recentemente assisti ao filme “Os Pássaros” de Alfred Hitchcock, e nele a actriz principal refugia-se num velho Dodge com um velocímetro linear – é uma de minhas cenas preferidas. Existem muito poucos relógios de pulso com indicações lineares. Um deles, se não o primeiro, foi o “The Cobra”, desenvolvido no final dos anos 1950 por Louis Cottier. O modelo é sensacional! Embora tenha sido criado há mais de meio século, ainda é muito contemporâneo. Infelizmente, existe apenas como um protótipo único e nunca foi passado à linha de produção. Agora, 50 anos após a sua patente (1959), a Urwerk presta homenagem ao trabalho de Louis Cottier ao criar a sua própria interpretação do Cobra.”

Felix Baumgartner