Um design genial, delírio criativo, uma complicação inútil, impraticável, etc. Inúmeras foram as maneiras de se referir ao C1 QuantumGravity em Baselworld 2009, muitas elogiosas, outras nem tanto... Contudo, ninguém pôde ficar indiferente a ele: o lançamento da Concord foi provavelmente o relógio mais comentado de todo o salão Suíço.
O C1 QuantumGravity foi o ponto culminante do trabalho de Vincent Perriard à frente da Concord. Este Suíço de Neuchâtel, atualmente com 40 anos de idade, assumiu a sua Presidência no ano de 2006, com a missão de uma total reestruturação da tradicional marca, conhecida pela forte presença no mercado norte-americano e por modelos como o Delirium, o mais fino relógio analógico já produzido, em 1980.
Em 2008, a Concord foi uma das grandes surpresas do Grande Prêmio de Relojoaria de Genebra, ao conquistar o prêmio de Melhor Design com o modelo C1 Tourbillon Gravity, um relógio com um turbilhão “destacado” da caixa e perpendicular ao restante do mecanismo.
O C1 QuantumGravity extrapola o conceito do Tourbillon Gravity ao apresentar um mecanismo de turbilhão bi-axial aéreo, com uma reserva de marcha vertical e indicação de segundos individualizada. Praticamente despido de um mostrador, ele revela espetaculares volumes e ao mesmo tempo um intrigante vazio: o mais novo espécime da C Lab Series é um relógio decididamente ousado.
Projetado e desenvolvido pelo C Lab Series, o C1 QuantumGravity busca simbolizar o tempo sem restrições, onde apenas impulso e intuição prevalecem. Uma unidade especial dedicada à relojoaria extrema, a C Lab Series tem uma missão: ampliar os limites da relojoaria mecânica ao introduzir novos modos de expressão. No ano passado, o C1 Tourbillon Gravity liberou o tempo de si mesmo sem quaisquer reservas.
Em 2009, o C Lab Series está expandindo essa metamorfose relojoeira para abraçar novos horizontes. Inicialmente concebido no outono de 2008, o C1 QuantumGravity nasceu após um período de 5 meses de incubação, nutrido pela vontade e energia de uma equipe que trabalha por instinto. A BNB Concept foi encarregada da criação do movimento, enquanto o Studio Bellon finalizou o design.
O resultado: uma nova espécie de relógio que vive o tempo como se ele fosse um experimento, e o espaço, uma fonte de estímulo. A criação do C1 QuantumGravity constituiu um ato provocativo por si mesmo, enquanto sua construção foi uma exploração realizada no limite do excesso e do desacato.
A reserva de marcha perpendicular
Um pistão cilíndrico, um movimento vertical com avanço e retrocesso e líquido. Estes foram os três elementos essenciais combinados pelo C Lab Series para criar esta original indicação envolvendo mecânica e química.
O design e os códigos de exibição tradicionais foram revistos para abrir caminho para uma coluna móvel de vidro, localizada entre 12 horas e 1 hora, que serve como a reserva de marcha em um indicador vertical. No lado químico da coisa, um líquido com nanopartículas verdes fosforescentes preenche um tubo para auxiliar a leitura. Por sua vez, do lado mecânico, este medidor de energia opera perpendicularmente ao calibre, subindo e descendo a partir de sua base para assinalar a energia remanescente do movimento em relação ao total de três dias de autonomia disponível. Seu contorno graduado corresponde a indicadores de nível, que são fixados à superfície interna do relógio.
Um turbilhão estaiado biaxial
Cabos, um movimento biaxial e uma posição lateral. Esta série de desafios foram superados para se erigir uma espetacular carruagem para o turbilhão.
Posicionado na borda esquerda do relógio e literalmente suspenso, ele gira de forma multidimensional sobre dois eixos, o principal sendo vertical. Sua estrutura desconcertante adotou a rigidez e a leveza da elevação das pontes estaiadas: um braço, estendido a partir de cabos medindo apenas 2/10 de um milímetro de largura e amarrado à platina, mantém a carruagem verticalmente e com isso reforça a impressão de um arranjo independente. O mecanismo de suspensão é apoiado por um sistema auto-tensor por elastômeros, que permite que o conjunto cabo/braço seja precisamente ajustado e os efeitos da dilatação, compensados.
A mecânica da flutuação
48,5 mm de diâmetro e 22 mm de profundidade: a aparência de um nave espacial, cujas proporções alcançam incríveis 57,5 mm de largura. Contudo, o C1 QuantumGravity permanece facilmente vestível graças ao desenho sem garras que assegura um razoável ajuste ao pulso. O uso do Titânio para a caixa e do Alumínio para a maioria dos componentes do movimento fornece uma leveza a este relógio que é tão impressionante como o seu tamanho.
A construção deste modelo, composto de 511 peças, destaca-se por uma anatomia que privilegia espaço e transparência: a caixa, cuja produção exigiu 400 horas de fino ajuste, pode ser reduzida a uma estrutura que é literalmente envelopada por 5 cristais de safira. O mecanismo é visível de todos os ângulos.
Embora a caixa e o movimento compartilhem um código genético, já que eles foram feitos um para o outro, eles são ladeados por outros elementos que parecem trabalhar de forma auto-suficiente: à esquerda, uma saliência de vidro abriga a carruagem do turbilhão enquanto que à direita, dois invólucros simétricos abrigam o mecanismo de corda e os segundos, às 2 e 4 horas, respectivamente.
Inteiramente oculto, a imponente chave para ajuste da hora pode ser ejetada de sua guarnição com uma simples pressão sobre seu botão. Quanto aos segundos, eles se evadem do mostrador para aninhar-se ao lado da caixa. Eles são gravados em laranja luminescente contra um cilindro preto de alumínio e podem ser vistos através de uma janela cujo desenho é semelhante ao do botão da coroa. Um cristal de safira lateral revela as lâminas giratórias da roda dos segundos em laranja.
O mostrador também foi impregnado deste desejo de máxima abertura. Embora ele exiba o voo das horas e minutos, seu foco está nos espaços vazios. A profundidade de seu campo de visão é deslumbrante, com uma incrível sensação de flutuação. Desconstrução, um conceito bastante caro à Concord, foi ampliado: o C1 QuantumGravity apreende o tempo como uma perspectiva, usando o vazio como um material no qual as indicações do tempo são inseridas.
Sob o impressionante cristal de safira, o panorama, amplificado ao seu máximo, contorna o tempo que foi quase que desmaterializado. E, a despeito de toda a loucura, a legibilidade permaneceu no núcleo de sua construção. Como se fosse um disco de vidro suspenso, o círculo de horas descentrado entre 3 e 4 horas preenche uma parte da cavidade, no fundo da qual o movimento é apoiado. Uma estrutura como uma aranha age como um andaime sob o disco transparente pontuado pelos marcadores luminescentes em laranja.
Parecendo estar à beira de um abismo, o mecanismo mecânico a corda manual coreografa o tempo com precisão. Um fundo de caixa com abertura no estilo “oficial” revela o circuito geométrico, as pontes com ângulos retos esqueletizadas, as engrenagens que transmitem a energia à carruagem do turbilhão e o sistema de cabos. Os toques de acabamento realçam o design industrial que é ao mesmo tempo metódico e futurista: uma platina em alumínio preto contra pontes em alumínio antracito, rubis contra parafusos em aço polido. Eles incorporam o espírito de um relógio feito com materiais de alta tecnologia, vidro, vazio e materiais luminescentes coloridos.
O movimento recebeu o nome de Calibre Concord C104, um mecanismo a corda manual com regulador turbilhão bi-axial, batendo a uma frequencia de 21.600 vibrações por hora, 42 rubis e 3 dias de reserva de marcha. Suas funções incluem horas, minutos, segundos externos à caixa e a indicação vertical de reserva de marcha.
Complementa o modelo uma pulseira em borracha negra vulcanizada fixada à caixa por 4 parafusos.
O C1 QuantumGravity defende a tese de que o tempo está inexoravelmente ligado ao espaço. Uma tese que infelizmente não poderá ser comprovada por muitos. Ao custo de US$ 480,000.00, esse autêntico desvario relojoeiro será produzido em uma limitadíssima série de 10 exemplares, a serem entregues a partir do mês de Dezembro de 2009.
Publicado originalmente na Revista Pulso no. 65, Novembro/2009
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