O tempo em um relógio é quase sempre exibido de forma circular: um mostrador e dois (ou três) ponteiros com a hora mostrada ao redor de um círculo em um ciclo perpétuo. Contudo, esta representação do tempo em 360° vai contra tudo o que nós aprendemos quando crescemos, desenhando uma linha reta em uma folha em branco e marcando Passado, Presente e Futuro.
Por que pensamos no tempo como se viajando em uma linha reta, mas o exibimos girando ao redor de um círculo? A resposta é simples: mecanismos que giram continuamente são muito mais simples de se produzir do que aqueles que traçam uma linha reta e então retornam a zero. De fato, os últimos são tão difíceis que, até agora, ninguém jamais foi capaz de colocar em produção um relógio de pulso com reais indicações retrógradas lineares.
O UR-CC1 “King Cobra”
Ninguém, até que Felix Baumgartner e Martin Frei apresentassem o resultado de três anos de pesquisa, desenvolvimento, produção e testes: o UR-CC1 “King Cobra”, um relógio com duas indicações horizontais dispostas em dois cilindros retrógrados: um para as horas (saltantes), o outro para os minutos.
Mas não devemos nos iludir pela aparente simplicidade das indicações; o UR-CC1 demandou imensos esforços para assegurar que a rotação e o retorno instantâneo dos grandes cilindros de horas e minutos fossem obtidos sem comprometer a precisão da cronometria.
A came tripla
A came tripla vertical que aciona um rack dentado (visível através de uma janela na lateral da caixa) faz girar o cilindro dos minutos. De zero a 60 minutos, o cilindro dos minutos gira 300°. Ao chegar à marca dos 60 minutos o cilindro instantaneamente (1/10 de um segundo) é revertido à sua posição original graças a uma mola linear extra-plana. O movimento retrograde do cilindro dos minutos dispara o cilindro das horas para avançar (saltar) uma hora completa.
A came tripla é fabricada em bronze-berílio, um metal escolhido por suas inerentes propriedades auto-lubrificantes e baixo coeficiente de atrito, e tem a forma de três pequenos declives. A forma precisa da curva do declive é transmitida ao rack pivotante, enquanto os dentes na extremidade do rack engrenam com o cilindro dos minutos e o fazem girar. A came tripla completa uma rotação em três horas, de modo que um dos três declives leva 60 minutos. 180 pontos de referência foram calculados em cada uma das três cames para assegurar a rotação do cilindro de minutos com precisão e isocronismo.
Segmento dentado
O segmento dentado na extremidade da came transmite e transforma a rotação da came na rotação do cilindro de minutos. O rack dentado apresenta duas propriedades que a princípio parecem contraditórias: absoluta rigidez, para transmitir com precisão o movimento da came para o cilindro de minutos, e um peso extremamente baixo para consumir o mínimo de energia possível e minimizar os efeitos da gravidade e acelerações/choques. Este componente vital foi fabricado pela Mimotec usando seu processo fotolitográfico. O padrão em favo de mel da estrutura resolve as duas aparentemente contraditórias exigências de máxima resistência e mínimo peso.
O disco de segundos
O mostrador do UR-CC1 é animado por um disco rotativo exibindo os segundos digitalmente e linearmente – uma novidade mundial! Esta incrível proeza foi realizada graças à técnica de produção fotolitográfica da Mimotec, um procedimento ainda mais preciso que a eletro-erosão. Para reduzir a massa a um mínimo absoluto, os minúsculos numerais ainda foram esqueletizados. Uma pequena placa aos 10 segundos com a logo Urwerk contrabalança precisamente o disco de numerais individuais. Esta maravilha da micro-precisão pesa apenas 0,09 gramas.
O rotor Fly Brake
O UR-CC1 traz o sistema pneumático de absorção de cheques do módulo do automático chamado de Rotor Fly Brake, exclusivo da Urwerk, que minimiza o desgaste do rotor e do mecanismo, além de danos provenientes de choques e movimentos bruscos. A operação do Rotor Fly Brake é visível através de uma janela na lateral da caixa.
UR-CC1 – Especificações Técnicas
Caixa: disponível em ouro cinza com fundo em titânio (edição limitada de 25 peças) ou ouro negro com fundo em titânio (edição limitada de 25 peças), com acabamento acetinado.
Movimento: calibre UR-CC1, automático, regulado pelo absorvedor pneumático de choques “fly brake turbine”
Indicações: exibição linear de horas e minutos com horas saltantes e minutos retrógrados; indicação de segundos digital e linear.
Dimensões: 45,7 mm x 43,5 mm x 15 mm
Mostrador e pontes: ARCAP P40, com SuperLuminova nos indicadores de horas e minutos
Até o momento, ainda não foram definidos os preços de venda do UR-CC1.
A Gênese de uma criação
1958
Gilbert Albert e Louis Cottier unem seus talentos para criar um relógio destinado a revolucionar o mundo da relojoaria. Sua ideia é completamente extravagante: é o primeiro relógio do mundo a apresentar uma indicação linear. É uma extraordinária peça de vanguarda que não atende a nenhum dos critérios estéticos da época. A ideia da indicação linear podia parecer simples, mas sua execução foi uma dor de cabeça técnica de monumentais proporções. Contudo, Albert e Cottier acreditavam nela e foram adiante, criando um protótipo para a Patek Philippe.
1959
Uma patente foi depositada por Louis Cottier, detalhando a escala técnica da realização. Então – nada. O protótipo foi deixado de lado. Se ao menos o relógio funciona? Hoje, ninguém sabe ao certo. Ele ocupa um lugar no museu Patek Philippe e continua a despertar a curiosidade de todos.
1998
Com lápis e papel, Martin Frei, co-fundador da Urwerk e um esteta de coração, rascunha os primeiros contornos de sua futura criação: um relógio no qual as horas e os minutos são indicados por duas linhas retas paralelas. Mas ele hesita. Com Felix Baumgartner, mestre relojoeiro e co-fundador da Urwerk, outra ideia vem à mente – o conceito da hora satélite, apresentado pela primeira vez em Basel. O projeto anterior é adiado, sine die.
2006
A Urwerk é reconhecida por seus relógios mecânicos com horas satélite, nos quais satélites orbitais de horas indicam os minutos. Mas a ideia de desenvolver diferentes modos de indicar o tempo continua a fascinar Felix Baumgartner.
Finalmente, é o filme “Os Pássaros” de Alfred Hitchcock que dá a ele o decisivo empurrão na direção certa. Em uma das mais famosas cenas do filme, a heroína busca refúgio em um velho Dodge. A imagem dura poucos segundos mas é crucial – um “close-up” do painel e seu velocímetro linear. Sim, é isto! Uma linha contínua para marcar o tempo. Felix e Martin começam a trabalhar sem parar neste novo projeto. Sua pesquisa os leva a descobrir o relógio de Gilbert Albert e Louis Cottier. Ele seria a sua “musa”.
2009
Três anos de pesquisa. Um ano de testes. O Urwerk “King Cobra” é revelado. ‘CC’ de Cottier Cobra, uma homenagem ao gênio de Louis Cottier, inventor e criador. Mais uma vez, a Urwerk redefine sua visão da alta relojoaria e amplia as fronteiras de suas possibilidades.
Interesso-me pela percepção do tempo. Físicos nos dizem que o tempo pode ser distorcido ou esticado, e nossas experiências diárias se baseiam nos ciclos circulares dos dias, estações e anos.
Mas eu também fico fascinado com a ideia de que o tempo pode ser ordenado, ou mesmo aprisionado, para fluir em uma direção linear – uma linha reta a partir do passado, através do presente, até o futuro. E, porque isto pode representar a linha da vida de um indivíduo, sinto que este formato linear pode ser uma maneira bastante humana de se observar o tempo. Além disso, acho que sua aparência é muito legal!
Martin Frei
Não sou muito afeito à nostalgia, mas sempre gostei dos velocímetros lineares dos carros antigos. Meu irmão mais velho teve um Volvo dos anos 1960 e foi ele que nos deu a primeira ideia de uma indicação linear do tempo. Recentemente assisti ao filme “Os Pássaros” de Alfred Hitchcock, e nele a heroína se refugia em um velho Dodge com um velocímetro linear – é uma de minhas cenas favoritas.
Existem muito poucos relógios de pulso com indicações lineares. Um deles, se não o primeiro, foi “The Cobra”, desenvolvido no final dos anos 1950 por Louis Cottier. Ele é sensacional! Embora tenha sido criado mais de meio século atrás, ainda é muito contemporâneo. Infelizmente, ele existe apenas como um único protótipo e nunca foi colocado em produção. Agora, 50 anos após a sua patente (1959), a Urwerk presta homenagem ao trabalho de Louis Cottier ao criar sua própria interpretação do Cobra.
Felix Baumgartner
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