“Nada neste mundo aspira tanto à beleza e se adorna de tão boa disposição como a alma...
Por isso, há poucas almas no mundo capazes de resistir ao poder de um espírito consagrado à beleza.”
Maurice Maeterlinck, O tesouro dos humildes
O que nos transmitem estas máscaras da África, Ásia, Oceania e América? Que relação têm elas com a alta relojoaria? “Tudo” e “salta à vista”, poderíamos responder; mas isto seria simplificar excessivamente as coisas. A criação desta coleção foi um processo longo e tortuoso, repleto de obstáculos que foram superados com paciência; mas o resultado final merece toda a paixão que lhe foi dispensada.
A ideia da coleção surgiu em função de um renovado interesse geral pela arte tribal. A cultura e as artes “primitivas” estão passando por uma nova época dourada, o que se pode comprovar pela tão esperada inauguração do museu Quai Branly de Paris e pelos preços astronômicos alcançados nos leilões; por exemplo, em Junho de 2006 foi vendida uma máscara Fang por 5.900.000 euros na casa de leilões francesa Hotel Drouot. É a soma mais elevada jamais paga por uma peça de arte tribal. Também se deve considerar que o objeto pertencia a Pierre Vérité, um dos marchands de arte africana mais destacados do século XX, mas o preço não tem absolutamente nada a ver com os cinco dólares que Max Ernst pagou em 1941 ao comerciante nova-iorquino de artigos de segunda-mão Julius Carlebach por uma colher de esquimó.
Uma forma de entender o mundo
Foi no século XIX que a arte “primitiva” começou a despertar o interesse dos colecionadores. Deram-se conta do seu valor intrínseco, considerando-a como obra de arte. É lógico, portanto, que os artistas fossem os primeiros a decifrar o significado desses objetos, tão simples e ao mesmo tempo eloquentes. Eram só alguns orifícios esculpidos na madeira: dois para os olhos, um para o nariz e outro para a boca. Os artistas modernos da época eram plenamente conscientes de que a arte é uma das múltiplas formas que existem para entender o mundo.
A descoberta da arte tribal fez com que aqueles artistas aprendessem de Cézanne, um mestre para todos eles; começaram a enfocar as coisas de outra perspectiva, começaram a reformular o conceito de volume e o de espaço, rompendo com o realismo, liberando-se das doutrinas do academismo, inventando uma nova maneira de representar a realidade para captar a essência do ser. Tanto os fauvistas — Matisse, Derain e Vlaminck — como os surrealistas e os cubistas abraçaram a arte tribal e o seu modo de reproduzir as formas, reduzindo-as a uma mínima expressão. Conforme Daniel-Henry Kahnweiler, um importante editor e marchand de arte, “os cubistas pensavam que, ao prescindirem de qualquer imitação, algumas máscaras da Costa do Marfim convidavam a quem as observava a imaginar o rosto cujas formas não estavam reproduzidas nas mesmas” (2).
“Arte africana? Não sabia que existia.” Apesar desta célebre citação de Picasso, o pintor inspirou-se tanto na arte africana como na Ibérica ao realizar Les Demoiselles d’Avignon, a obra considerada como a origem do cubismo que Picasso começou em 1906 e terminou em Julho de 1907. Enquanto visitava o museu etnográfico parisiense de Trocadéro, encontrou o material que necessitava para avançar na sua busca formal: “Completamente só naquele museu aterrador, rodeado de máscaras, bonecos dos peles vermelhas e manequins cobertos de pó... foi então, suponho, quando tive a ideia de Les Demoiselles d’Avignon, mas não por uma questão formal, mas porque aquele foi o meu primeiro exorcismo pictórico” (1). Segundo o pintor Wassily Kandinsky, “o sucesso da busca de Picasso deve-se à arte africana.” (3) E o seu caso não foi o único. “Toda uma série de pintores franceses e, depois destes, diversos pintores estrangeiros seguiram aquele caminho recém-aberto. Foi o começo do movimento cubista”, escreveu em 1910 (3).
Após a descoberta das colheres de arroz da Costa do Marfim, Giacometti esculpiu a sua
Mulher-colher no final de 1926. Na
Exposition Surréaliste d'Objects, organizada em 1936 por André Breton na galeria Charles Ratton, as obras de Salvador Dalí, Max Ernst, Mirò e Giacometti foram exibidas pela primeira vez juntamente com quatro máscaras de esquimós que pertenciam à Heye Foundation de Nova Iorque. A arte tribal do continente americano e os seus diversos objetos de materiais recuperados e engenhosamente reciclados não tinham o reconhecimento naquela época.
Reflexo do humano e do divino
Os pintores, escultores e poetas não demoraram em apreciar o valor artístico intrínseco daqueles objetos, mas as instituições precisaram de mais tempo. Assim sendo, na maioria das vezes, as máscaras e estátuas não eram expostas em galerias de arte, mas em museus etnográficos.
Apesar de a estética ser importante, o valor da arte tribal não reside essencialmente nesse aspecto. A sua verdadeira beleza está no uso e na utilização do objeto, nas mãos que o seguraram e acariciaram; para não mencionar o poder conferido a estes objetos por um determinado povo numa época e num continente concretos, seguindo uma tradição religiosa em particular. Tal como os retábulos da Idade Média e os afrescos de Giotto, as máscaras cumprem uma função ligada às cerimônias de iniciação e aos ritos religiosos e denotam uma distinção social. São, da mesma forma, a encarnação de uma divindade e um ente espiritual, bem como um reflexo dos homens que transcende épocas e fronteiras, animando-os a refazerem as dúvidas universais sobre os mistérios do nascimento, da vida e da morte e sobre a relação entre o visível e o invisível, sobre o humano e o divino.
A autêntica arte do tempo
Deixando de lado o simbolismo e a magia das máscaras, a união da arte tribal e da arte da relojoeira tem certa lógica: ambas são criaturas do tempo.
O verdadeiro escultor de um objeto, aquele que o realça e o valoriza, aquele que modela ou suaviza a sua silhueta é o tempo. As máscaras foram criadas por necessidade e tinham uma clara dimensão cronológica, pois eram utilizadas em todos os rituais, serviam para celebrar as mudanças de estação e acompanhavam tanto os vivos como os mortos. Também não é difícil estabelecer um paralelismo entre o trabalho anônimo do escultor de uma máscara e o do relojoeiro na sua mesa de trabalho, onde dedica meses e inclusive anos para conceber um novo movimento. Quando acabam o trabalho, ambos os artesãos são despojados das suas criações, que não costumam levar os seus nomes e passam a ser propriedade da pessoa que as utilizará e daqueles que as herdarão, de geração em geração, deixando no ar uma infinidade de perguntas e quase nenhuma resposta.
Bibliografia
L’homme et ses masques: Chefs-d’oeuvre des musées Barbier-Mueller, Genebra e Barcelona, Michel Butor, Alain-Michel Boyer, Floriane Morin, Pierre Messmer Picasso, L’homme aux mille masques, Jorge Semprun, Maria Teresa Ocaña, Jean Paul Barbier-Mueller, Pierre Daix, Collectif, Somogy, 2006 L’Art africain, Jacques Kerchache, Jean-Louis Paudrat e Lucien Stephan, Mazenod, Paris, 1988
(1) Le primitivisme dans l’art du XX e siècle, William Rubin, Flammarion, Paris, 1991
(2) L’art nègre et le cubisme, Daniel-Henry Kahnweiler, L’art nègre, Paris, págs. 83–88
(3) Du Spirituel dans l’art et dans la peinture en particulier, Kandinsky, Denoël
Coleção Métiers D’art “Les Masques”
Há quatro anos, em 2005, a Vacheron Constantin comemorou os seus 250 anos de história ininterrupta. Este aniversário, sem precedentes nos anais da história da relojoaria, possibilitou à marca genebrina uma oportunidade ímpar para demonstrar o seu domínio da arte da relojoaria com façanhas que redefiniriam os limites do impossível. Depois de voltar a vista com orgulho ao passado, a marca continua a avançar com um passo seguro em direção ao futuro, numa incessante busca do extraordinário. Criar, impressionar e cativar: esse é o desafio dos próximos anos.
A relojoaria é uma arte que requer uma reinvenção e uma superação constantes; de fato, essa é a única maneira de seguir surpreendendo. Graças a François Constantin, um dos fundadores da firma, o nome e a reputação da marca são sinônimos de horizontes longínquos. Este excelente embaixador e viajante infatigável percorreu o mundo nas condições inseguras da época para difundir o saber-fazer da empresa em outros continentes. Em 1820 já explorava as oportunidades na China, e os primeiros relógios Vacheron & Constantin cruzaram o Atlântico em 1833. A casa, em seguida, deu-se conta da necessidade de ser introduzida nos mercados do Novo Mundo e abriu uma filial em Nova Iorque, antes de se lançar a outros mercados, como o brasileiro, em 1840, e o indiano, dez anos mais tarde. Um relógio pode estabelecer uma ponte entre as culturas de diferentes nações? Os dois fundadores da empresa tinham a certeza disso. Em 2007 a marca pensou que era necessário voltar ao essencial e render homenagem ao homem, quando este está à beira do sublime. Os seus relojoeiros embarcaram numa longa viagem através do tempo e do espaço, rumo às origens do homem, concentrando-se numa das expressões mais belas da sua alma.
Três anos - Doze máscaras - Trezentos relógios excepcionais
Qual seria o tema mais adequado para evocar sutilmente a vivência humana? Depois dos mestres relojoeiros da marca terem considerado várias possibilidades, a escolha das máscaras foi a mais lógica, pois Genebra tem a tremenda sorte de possuir um dos melhores museus de arte primitiva do mundo: o museu Barbier-Mueller. A sua proximidade foi um dos fatores que mais influíram na decisão da Vacheron Constantin. Portanto, a coleção Les Métiers d’Art “Les Masques” nasceu da ideia do próximo e do longínquo, do passado, do presente e do futuro e de um processo de constante renovação.
Mas a empresa ainda tinha de convencer o museu. Estaria ele disposto a emprestar as suas jóias durante vários meses para que pudessem ser reproduzidas no mostrador de um relógio de colecionador? Faltavam duas coisas para que Jean Paul Barbier-Mueller acabasse de reconhecer a beleza e a transcendência do projeto: um almoço no qual ele e a equipe da Vacheron Constantin, dirigida por Juan Carlos Torres, tiveram a ocasião de partilhar a sua paixão pelos objetos belos e pela filosofia da marca.
O restante foi obra da magia horológica e da promessa da fábrica de ultrapassar os limites do impossível. Foram selecionadas doze máscaras da coleção Barbier-Mueller para serem reproduzidas em pequena escala e em ouro. Todas elas estão alojadas majestosamente no centro dos relógios de uma coleção que abrange dois mil anos e quatro continentes.
A Vacheron Constantin, consciente do valor do tempo, soube respeitar o tempo requerido para criar peças tão excepcionais como estas. Em primeiro lugar, foram necessários meses para aperfeiçoar o movimento e depois vieram as técnicas que os mestres relojoeiros utilizariam para reproduzir estas obras de arte em miniatura. Tinha de haver tempo de sobra para resolver dúvidas, para pensar e inventar.
Na criação de uma coleção não há lugar para a pressa. Por isso, a coleção Les Métiers d’Art “Les Masques” é como uma história entregue em fascículos. Durante três anos - de 2007 a 2009 —, a cada ano foi apresentada uma série limitada de vinte e cinco conjuntos de quatro máscaras diferentes num estojo.
No Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque pode-se contemplar um conjunto completo de doze relógios com as reproduções das doze máscaras - pertencentes à coleção limitada de trezentos relógios excepcionais —, que faz parte da exposição chamada
A Legacy of Collecting: African and Oceanic Art from the Barbier-Mueller Museum, Geneva, patrocinada pela Vacheron Constantin em homenagem a Jean Paul Barbier-Mueller.
Uma obra de arte em miniatura
Cada relógio está equipado com o movimento automático calibre 2460G4 da marca, que exibe o prestigiado Selo de Genebra. Este extraordinário movimento permite que o relógio marque a hora sem a necessidade de ponteiros. Por meio de um trem de rodas e engrenagens, quatro discos indicam em pequenas janelas as horas, os minutos, os dias e a data, e o centro do mostrador fica livre para as máscaras e para que os artesãos possam expressar a sua criatividade livremente.
O movimento voltou a ser concebido completamente para acolher as máscaras. Apesar de que o tempo seja a razão de ser de qualquer relógio, neste caso são as máscaras o centro da atenção e deviam estar em primeiro plano. Para garantir que assim o seria, a equipe de designers decidiu dissimular o movimento quase que completamente. Uma engenhosa técnica baseada na transparência e num tratamento especial do vidro gera a sensação de que as máscaras estão a flutuar. Os diferentes tons dos cristais de safira são obtidos mediante um processo de metalização único e realçam a cor da máscara. O efeito é espetacular: a escultura em miniatura, essa silenciosa guardiã de um sem-fim de segredos ancestrais, parece estar ao alcance da mão.
Por último, foi necessário todo o talento de Michel Butor para dar voz, e não só vida às máscaras. As suas magníficas palavras, os breves poemas em prosa que dedicou às máscaras, traçam um círculo ao redor do mostrador de safira em letras de ouro. Os versos do escritor sucedem-se, desenhando uma espiral sem começo nem fim; uma mensagem misteriosa que só é legível quando recebe luz em um ângulo determinado. Consegue-se esse efeito com a metalização a vácuo, um sofisticado processo tecnológico que consiste em aplicar com pistola as letras de ouro no cristal de safira. A infinidade de jogos de luzes e transparências permite que o relógio guarde segredos que somente partilhará com o seu dono.
2009 – Apresentação do Terceiro e Último Conjunto
Indonésia, Oceania
Máscara facial
Ilha de Lombok, povo Sasak
Madeira dura, resíduos de pigmentos brancos
Altura: 21,5 cm
Antiga coleção de Mathias Komor
Inv. 3320-A
Danço a duração, a espera,
paciência, resistência
ao sofrimento e à maldade,
a lentidão dos dias e das noites,
o reconhecimento com a voz entrecortada,
a resignação não isenta de vigilância,
a trepidante passagem dos meses
e a destruição dos meses.
Michel Butor
O que domina nesta máscara de ar perplexo e linhas realistas e geométricas são os seus grandes olhos. Ela representa claramente um ancião, com as suas bochechas afundadas, as suas olheiras escuras e, sobretudo, a sua testa sulcada por rugas e as dobras que separam o nariz da boca. Essas rugas animam o rosto e contribuem à expressão dramática do personagem, o qual parece levantar as sobrancelhas e estar boquiaberto. O ancião é um personagem habitual no teatro Wayang Topeng de Bali. Os atores mascarados não falavam porque tinham de segurar a máscara, mordendo uma correia de couro. Portanto, eram os narradores e os cantores aqueles que descreviam a trama e relatavam as aventuras dos heróis.
China, Ásia
Máscara facial Zangs-‘bag
Região do Tibete, budismo tântrico. Século XVI-XVII
Cobre parcialmente dourado, pigmentos
Altura: 22,2 cm
Inv. 2504-168
Com os meus ornamentos rodeio
o vazio que se abre nos vossos olhos
e na vossa boca, e o terceiro
olho da testa
guiá-los-á nos vossos trabalhos,
no labirinto das vossas vidas
e nas dos vossos filhos,
os quais continuarão as vossas aventuras.
Michel Butor
Esta máscara meio oca parece irradiar um halo misterioso e inclusive profundamente sagrado, apesar do seu nariz absolutamente naturalista nos lembrar que esta figura de expressão estática tem um lado humano. O divino está corporificado numa estranha mandorla, situada, tal como uma jóia, na testa, em torno a um olho pintado. Uma bela grega de volutas e arabescos dourados enquadra os espaços vazios. Este tipo de máscara zangs-’bag era usado por alguns monges da dGe-lugs-pa, a seita dos chapéus amarelos. As máscaras eram utilizadas nas danças que rendiam culto a Kâlacakra (a Roda do Tempo).
México, América
Máscara pingente
Estado de Guerrero
Cultura Mezcala (300-100 a. C.)
Basalto
Altura: 12,8 cm
Inv. 505-26
Em intervalos regulares
durante a dança
apareço e acendo
o coração,
acelerado com os gritos
que ressoam nas paredes
que nos protegem dos espíritos
dos felinos e inimigos
que se aventuram a entrar nas nossas terras.
Michel Butor
O estilo singular de influência multicultural desta máscara pingente deixa claro o virtuosismo do artista. O seu perfil contundente e severo apresenta características abstratas e também naturalistas. A parte superior do rosto e a linha diagonal da bochecha luzem um desenho minimalista, enquanto que o nariz aquilino e a boca torcida para baixo parecem muito mais realistas. A máscara pertence à cultura Mezcala. Durante o período clássico, este povo costumava enterrar os seus defuntos no solo de barro das suas moradias. Devido a um rito ancestral de culto aos mortos, as tumbas estavam cheias de pequenas figuras humanas e assexuadas esculpidas em pedra dura, bustos, placas decoradas com rostos, máscaras e efígies de animais.
Gabão, África
Máscara Ngontang
Gabão ocidental, povo Fang
Madeira de coníferas coberta de caulim, pontos cristalizados
Altura: 31 cm
Inv. 1019-76
A linha do meu nariz estende-se
entre as sobrancelhas na minha testa
e abaixo até ao
queixo, atravessando a boca,
como uma flecha disparada
com um arco às alturas celestiais,
mais além das nuvens,
ou, naturalmente, o pássaro
em que se transforma o vosso espírito.
Michel Butor
A sobriedade desta máscara branca, com o seu ar melancólico e a sua boca arredondada, demonstra a extraordinária sensibilidade do escultor. Está coberta de caulim branco, uma cor que, tanto para os Fang como para muitas outras tribos africanas, simboliza o espírito dos mortos. A força expressiva do rosto provém da linha vertical que sugere o nariz e as escarificações que vão do queixo à testa, onde se desdobram duas sobrancelhas curvas. A máscara era utilizada numa dança ritual com motivo do Byeri, o culto aos antepassados. Apesar de que a sua utilização não tinha um significado religioso, o dançarino iniciado devia respeitar certos tabus e gestos rituais. O objetivo das danças era proteger o povo da bruxaria e das influências malignas.
Características técnicas
Números de referência
Máscara da China: 86070/000J-9400
Máscara da Indonésia: 86070/000G-9399
Máscara do México: 86070/000P-9401
Máscara do Gabão: 86070/000R-9402
Calibre: VC 2460 G4, mecânico automático com o Selo de Genebra
Espessura do movimento: 3,60 mm; 6,05 mm com a placa adicional
Diâmetro do movimento: 25,60 mm ou 11½ linhas
Rubis: 27 rubis
Frequência: 28.800 alternâncias/hora
Reserva de marcha: aproximadamente 40 horas
Indicações e funções: aparecem nas quatro pequenas janelas do mostrador:
- disco das horas
- disco dos minutos
- disco semi-saltante dos dias
- disco semi-saltante da data
Caixa
Máscara da China: ouro amarelo 18 K
Máscara da Indonésia: ouro branco 18 K
Máscara do México: platina 950
Máscara de Gabão: ouro rosa 5N 18 K
Diâmetro: 40 mm com fundo de cristal de safira
Estanqueidade: 3 atm ou 30 metros
Mostrador: vidro de safira anti-reflexo
Pulseira: couro de alligator mississipiensis costurado à mão, acabamento brilhante, castanho escuro
Fecho: fecho dobrável de ouro 18 K ou platina 950, meia Cruz de Malta
Série limitada
2009 – O terceiro conjunto de Les Métiers d’Art “Les Masques” é uma série limitada de vinte e cinco estojos, e cada um deles contém quatro relógios que representam os quatro continentes diferentes (América, Ásia, África e Oceania), ou seja, cem peças individuais no total.
O preço de venda sugerido do conjunto no mercado norte-americano é de US$ 412,000.00.
Métiers D’art “Les Masques” - A Arte Da Gravura
Além de terem poder, as máscaras estão concebidas para ocultar o rosto ou cobrir a cabeça. A sua forma está intimamente relacionada à sua função. Então, como seria possível reduzir o tamanho de uma máscara para que coubesse no limitado espaço de uma caixa de relógio sem perder o seu poder de evocação? Que material podia ser utilizado para reproduzir a sua pátina e os efeitos do passar do tempo? Como criar a ilusão do ouro coberto de azinhavre? E antes de qualquer coisa, o que é que poderia ser feito para ser fiel ao espírito das máscaras e não o trair novamente? Na medida em que avançava o projeto, estes enigmas pareciam cada vez mais insolúveis. Desde a concepção da ideia até a sua concretização, estiveram presentes uma infinidade de esforços não recompensados, testes falhos e caminhos que levaram a lugar nenhum. Porém, a marca não estava disposta a desistir.
Os resultados iniciais não estiveram à altura das expectativas, e a equipe da Vacheron Constantin decidiu encaminhar o trabalho de outra maneira. No seu ímpeto em terminar o projeto, seguiu adiante pacientemente com as suas investigações, aproximando-se cada vez mais dos modelos definitivos mediante o design de novas técnicas que harmonizavam o passado e o presente, a tradição e a tecnologia de vanguarda.
A miniaturização perfeita
A primeira dificuldade foi criar uma reprodução fiel das máscaras através da miniaturização. O museu Barbier-Mueller tinha aceitado ceder à fábrica algumas jóias da sua coleção com a condição de que a semelhança com as máscaras originais fosse excepcional.
Com o objetivo de respeitar escrupulosamente as proporções e as características que o artista original esculpiu com as suas ferramentas, bem como as próprias da passagem do tempo, o gravador poderia ter optado por seguir a tradição e criar à mão um protótipo em miniatura copiando o original. Se não o fez não foi por falta de habilidade, mas de tempo, aquele requerido para conceber vários métodos de fabrico do modelo ideal e encontrar o melhor ângulo de apresentação. A mínima modificação teria significado voltar ao começo novamente.
A Vacheron Constantin decidiu, portanto, confeccionar uma imagem tridimensional de cada máscara. Foram introduzidos os planos num computador e, desta forma, foi possível modificar todos os volumes ponto a ponto e encontrar a melhor forma de encaixar a máscara na caixa sem pôr em perigo a harmonia das suas formas. A magia da tecnologia laser tornou possível a miniaturização das máscaras.
Os materiais
Em seguida, surgiu outro dilema: deveriam ser utilizados a madeira, o cobre, o nácar e os pêlos das máscaras originais? Alguns destes materiais foram imediatamente descartados por serem absolutamente impraticáveis: por exemplo, não é conveniente utilizar uma estrutura de madeira para esculturas tão pequenas - também era inconcebível utilizar pêlos reais; além disso, o cobre também se oxida. Dado que o objetivo de qualquer relógio de colecionador é desafiar o tempo, a empresa decidiu-se pelo ouro, um metal precioso e nobre, que pode ser modelado, colorido e facilmente tratado.
A decoração
Após a concepção e a produção do primeiro modelo, recaiu sobre o gravador a honra de fazer alarde das suas habilidades, realizando, com sumo cuidado, os relevos, os realces e as cavidades, e cinzelando as zonas mais difíceis para reproduzir todos os efeitos da madeira da máscara congolesa e recriar o efeito do pêlo que brota da parte superior da máscara de madeira policromada do Alasca. O gravador utilizou com destreza o seu buril para reproduzir fielmente as marcas gravadas pelos escultores e talhar os olhos das máscaras, prestando uma atenção especial aos efeitos da passagem do tempo e imitando os traços de outras pessoas que viveram séculos atrás em continentes muito longínquos.
A cor
O último desafio era o tratamento da cor: como se poderia respeitar o aspecto da máscara e modelar a sua delicada policromia sem cair na armadilha de criar uma mera reprodução pintada? De início, a equipe da Vacheron Constantin fez o teste com vários tipos de ouro e acabou por selecionar para a máscara chinesa um tom muito cálido, similar ao latão envelhecido. Além disso, recorreu à alquimia e utilizou fórmulas galvânicas e químicas encontradas em livros antigos, inclusive preparando uma autêntica mesa de trabalho de químico, com os seus correspondentes alambiques. O gravador desenvolveu um inovador sistema de cobertura protetor para reproduzir o efeito do cobre coberto de azinhavre da máscara chinesa: pequenos depósitos de cobre sobre ouro que, em seguida, oxidavam-se. Num abrir e fechar de olhos, a máscara parecia ter milhares de anos de antiguidade.
A Vacheron Constantin e o Museu Barbier-Mueller: a aliança da arte
Algumas colaborações estão tão destinadas a existir que parece ser incrível que não tenham acontecido anteriormente. Finalmente, a Vacheron Constantin e o museu de Barbier-Mueller encontraram uma oportunidade para vincular os seus destinos numa coleção de relógios que transcende a arte primitiva.
Esta cooperação poderia nunca ter ocorrido se não fosse pelos valores partilhados com Jean-Paul Barbier-Mueller. A sua excepcional coleção de arte primitiva, exibida durante as últimas três décadas em Genebra e nos últimos dez anos em Barcelona, expressa um poderoso vínculo com a diversidade cultural e com um espírito pioneiro que é partilhado pela empresa relojoeira.
Dedicando a sua vida a enriquecer a coleção familiar de arte tribal que se iniciou há cem anos, Jean-Paul Barbier-Mueller demonstrou ser um dos colecionadores mais visionários da sua geração. Um descobridor infatigável de tesouros artísticos, que deu a Genebra um museu de inestimável valor. Este último está agora a comemorar o seu 30º aniversário e a Vacheron Constantin está legitimamente orgulhosa de estar associada a esta instituição numa data tão importante.
A coleção Vacheron Constantin Métiers d’Art “Les Masques” (2007 – 2009) que apresentou quatro modelos por ano, cada um deles pertencente a uma edição limitada de 25 peças, evidencia o profundo vínculo da marca com a cultura, as viagens e as descobertas.
Cultura, porque a Vacheron Constantin é uma empresa inspirada artisticamente em cada uma das suas criações.
As viagens, porque estão nos genes da firma. Aqueles conhecedores da história da marca sabem como os seus fundadores amavam, e particularmente François Constantin, dar a volta ao mundo com a finalidade de partilhar a sua habilidade relojoeira.
E as descobertas são claramente uma parte essencial da sua filosofia. Sem o constante desafio às técnicas já existentes, à estética e às culturas estabelecidas, e explorando novos territórios, indubitavelmente a Vacheron Constantin não teria sido capaz de acumular mais de 250 anos de saber-fazer relojoeiro.
Nascida de uma reflexão filosófica sobre lugares próximos e longínquos, sobre o passado e o presente, sobre o futuro e os renovados ciclos da vida, a coleção Métiers d’Art “Les Masques” é um brilhante tributo ao espírito humano. De forma eloquente, reúne o respeito sentido pelos artesãos em geral e em particular pelos destacados trabalhos realizados por estes na Vacheron Constantin.
A Vacheron Constantin é sinceramente grata a Jean-Paul Barbier-Mueller pela confiança que mostrou na marca e, é claro, a Michel Butor pela contribuição poética a estes relógios excepcionais. Enquanto as suas palavras nos convidam a lembrar que a face – ou a máscara - é o reflexo da alma, as aptidões relojoeiras proporcionam uma nova dimensão. Neste caso, são a expressão física do movimento, que é o que faz com que um relógio funcione, sempre sob a determinação de “fazer melhor se for possível, e isto sempre é possível”.
O Museu Barbier-Mueller de Genebra
Genebra tem a honra de possuir uma das mais completas e belas coleções de arte primitiva do mundo: a coleção do Museu Barbier-Mueller.
Se quisermos melhor compreender o espírito empreendedor de Josef Mueller ao constituir a coleção, devemos analisar a sua prematura sensibilidade artística. Quando tinha vinte anos, investiu as receitas de todo um ano na compra de um quadro de Ferdinand Hodler e, pouco depois, foi a Paris, onde conheceu o célebre marchand Ambroise Vollard. Seguindo os conselhos deste, comprou um quadro famoso e importante de Cézanne, o retrato do
Jardinier Vallier, pintado em 1905, ano no qual a vida do futuro pai da pintura moderna terminaria.
E foi assim, com muitas privações e vencendo várias dificuldades, que Josef Mueller reuniu com muita rapidez uma coleção que em 1918 já agrupava sete Cézanne, cinco Matisse e cinco Renoir, para não falar dos Picasso, dos Braque e de numerosas obras de outros mestres prestigiados.
Josef Mueller descobriu a arte tribal nos anos vinte, quando todo o exótico se pôs de moda: a arte africana,
La Revue Nègre e... Josephine Baker.
Josef Mueller comprava o que desejava. Fez negócios com os principais marchands de Paris, comprando algumas obras menos interessantes e outras que eram peças magníficas, como a máscara Téké Tsaayi da República Democrática do Congo, antiga propriedade de André Derain, vendida pelo célebre Charles Ratton. A coleção reúne hoje muitas obras que pertenceram a descobridores tão insignes da arte africana como Derain, Vlaminck, Tzara e Lhote.
Em 1952, surgiu Jean Paul Barbier-Mueller, um jovem decidido a constituir a sua própria coleção. Tinha 22 anos quando se rendeu aos encantos de Monique, a filha de Josef Mueller, e aos da coleção de arte tribal do seu pai. Casou-se com Monique e uniu as duas coleções que, graças a ele, não fizeram outra coisa senão florescer.
Em Maio de 1977, três meses após a morte de Josef Mueller, Monique e Jean Paul Barbier-Mueller abriram em Genebra o primeiro museu que levaria o seu nome. O segundo foi aberto em Barcelona, em 1997.
O ano de 2007 marca um antes e um depois na história desta família: é o centenário da coleção e o trigésimo aniversário do museu de Genebra e o décimo do de Barcelona.
Jean Paul Barbier-Mueller
Jean Paul Barbier-Mueller nasceu em Genebra em 1930, tendo recebido uma grande influência do seu pai, um apaixonado pela poesia, filosofia, música (em 1985 compôs uma obra musical em Seattle, Estados Unidos) e pela ciência (doutorou-se em biologia com 47 anos).
Após estudar direito em Genebra e em Londres, Jean Paul Barbier-Mueller obteve o título de advogado. Mas, pouco depois, começou a trabalhar para um importante banco e, mais adiante, aos 28 anos, assumiu um cargo diretivo numa sociedade de investimentos. Em 1960, constituiu a sua própria empresa, a
Société Privée de Gérance, especializada na exploração e administração da propriedade para investidores institucionais e na construção de moradias sociais.
Como colecionador, tal como o seu sogro, Josef Mueller, especializa-se na arte «não ocidental». Em 1977, ele e a sua mulher, Monique, abrem o Museu Barbier-Mueller, que já celebrou mais de setenta e cinco exposições, nas quais se exibiram diferentes partes da coleção familiar. Estas exposições foram organizadas com a colaboração de alguns dos principais museus da Europa, América do Norte e da Ásia, sendo que a maioria delas teve um catálogo seleto. Jean Paul Barbier-Mueller também dirigiu e financiou projetos de investigação em Sumatra, Costa do Marfim e Guiné. O Museu Barbier-Mueller de Arte Pré-colombina abriu as suas portas no Palau Nadal de Barcelona em Maio de 1997. Inaugurado pela Sua Majestade a Rainha Sofia, o museu nasceu do entusiasmo demonstrado pelo município perante a oferta de receber cerca de 400 obras de arte americana pré-hispânica como empréstimo a longo prazo. O Palau Nadal foi restaurando expressamente para abrigar estas peças.
Jean Paul Barbier-Mueller era também possuidor de uma coleção das primeiras edições de poetas renascentistas, que começou aos treze anos e acabou por publicar um catálogo sobre a mesma. Em 1997, ele e a sua mulher estabeleceram a Fundação Barbier-Mueller na Universidade de Genebra para o estudo da poesia renascentista italiana. A Fundação recebeu aproximadamente duzentos livros dos séculos XV e XVI, uma doação com um valor cultural importante. Recentes aquisições aumentaram consideravelmente esta coleção, que já possuía ao redor de quinhentas obras em 2005. O professor Jean Balsamo publicou um catálogo em 2006.
Jean Paul Barbier-Mueller foi nomeado Comendador da Legião de Honra e Comendador da Ordem das Artes e das Letras de França, bem como Comendador da Ordem do Mérito da República Italiana e Oficial da Ordem Real de Isabel A Católica. Sua Majestade O Rei de Espanha concedeu-lhe, recentemente, a insígnia de Grande Oficial da Ordem do Mérito Civil e também é Oficial da Ordem do Mérito Civil da Costa do Marfim.
Michel Butor
Michel Butor nasceu no dia 14 de Setembro de 1926 no norte de França. O seu pai trabalhava como administrador para a
Chemin de Fer du Nord e era um apaixonado pelo desenho, aquarela e pela gravura em madeira.
Em 1929, a família de Michel Butor mudou-se para Paris, onde cursou todos os seus estudos, salvo de 1939 a 1940, o ano da «drôle de guerre» (guerra estranha), tempo que passou na Normandia.
Depois de estudar literatura e filosofia na universidade, deixou Paris para trabalhar como professor no vale do Nilo, Egito. Desde há muito tempo estava fascinado pela escrita quando Minuit publicou as suas primeiras novelas. Seguiu com as viagens profissionais e exploratórias, pisando terras gregas, suíças e norte-americanas. Foi designado professor da Faculdade de Letras da Universidade de Genebra e publicou vários ensaios, narrações, poemas e relatos curtos. Depois, trabalhou com pintores, músicos e fotógrafos interessados em unir diferentes formas de expressão artística. Escreveu duas obras para o Museu Barbier-Mueller:
Le Congrès des cuillers e
Un Jour nous construirons les pyramides; esta última quando da apresentação e exposição de uma coleção de artefatos do Egito pré-faraônico. Também viajou ao Japão, Austrália e China, retirando-se em 1991. Atualmente mora no departamento francês da Alta Sabóia, perto de Genebra.
Um evento muito especial
A Vacheron Constantin organizou um excepcional evento noturno no Metropolitan Museum of Art of New York como parte da inauguração da
“African and Oceanic Art from the Barbier-Mueller Museum, Geneva: a Legacy of Collecting”, uma exposição dedicada às obras-primas da coleção da família Barbier-Mueller e patrocinada pela marca.
Nesta auspiciosa ocasião (inédita na história do museu de Nova Iorque), a Vacheron Constantin recebeu 250 convidados para um jantar no esplêndido conjunto do Templo de Dendur, abaixo do enorme teto de vidro do museu, com vista para o Central Park.
O evento marcou a apresentação mundial das 4 últimas criações da “Métiers d’Art Les Masques”, e foi agraciado pela presença de Monique Barbier-Mueller e Juan-Carlos Torres, CEO da Vacheron Constantin, juntamente com Marc Guten, Diretor Internacional da Vacheron Constantin, Hugues de Pins, Presidente da Vacheron Constantin North America, e Laurence Mattet, Diretor do Museu Barbier-Mueller em Genebra.
Para mais informações sobre as edições anteriores da coleção Coleção Métiers d´Art - Les Masques, por favor consulte os artigos abaixo:
Lançamentos Vacheron Constantin no SIHH 2007
Coleção Métiers d´Art - Les Masques 2008