Por Carlos Tiburcio*
Montblanc Montre - Le Locle, Suíça – 20/06/2008
A Montblanc Montre está localizada em uma bela, recentemente renovada e extensivamente ampliada “Villa” em estilo Art Deco, construída no mesmo ano (1906) em que a Montblanc iniciou suas atividades em Hamburgo (Alemanha). Com certeza, uma coincidência bastante motivadora.
Na Montblanc desde o ano de 2007, Thierry Junod é um suíço de 36 anos de idade que tem como hobbies a degustação de bons vinhos, a gastronomia, a cozinha, a música e os esportes.
Atual Managing Director da Montblanc Montre S.A., Thierry Junod iniciou sua carreira dentro do Grupo Richemont, ao qual atualmente pertence a Montblanc, no ano de 2001, ao ingressar na Manufatura Cartier, em La Chaux-de-Fonds, como Gerente Industrial da Produção de Relógios. De 2004 a 2007, ocupou o cargo de Gerente de Desenvolvimento de Joalheria da Cartier, em Paris.
Iniciamos nossa conversa com uma breve apresentação de nosso web site Relógios & Relógios, em uma agradável manhã de verão, durante nossa visita à sede da Montblanc Montre na pequena cidade suíça de Le Locle.
R&R: Quando a fábrica de movimentos MB “in-house” estará operacional?
TJ: Nós estamos neste momento (Junho 2008) iniciando a produção dos movimentos, alguns componentes já estão sendo produzidos, enquanto outros serão fornecidos por outras empresas do grupo Richemont (como o escapamento, por exemplo). Todos os movimentos serão montados neste prédio, e neste momento estamos dando continuidade às obras de expansão da fábrica, que estarão prontas neste segundo semestre (Setembro).
R&R: Qual será sua capacidade de produção da linha Rieussec?
TJ: Iremos aumentar a nossa capacidade de produção de maneira progressiva nestes próximos 12 meses. Ao final deste período (final de 2009), estaremos produzindo entre 300 e 500 movimentos “in-house”. Esta deverá ser a capacidade total de produção para o ano 2009. Para 2010 planejamos aumentar ainda mais estes números para a linha Rieussec.
Nota: a produção atual total dos relógios Montblanc já atingiu a expressiva marca de 100.000 peças/ano, e com esta nova fábrica, a expectativa é de dobrar esta produção para 200.000 peças por Ano, em 3 a 5 Anos).
R&R: Quando os primeiros modelos Star Nicolas Rieussec Monopusher Chronograph* chegarão ao mercado?
* Modelo apresentado pela Montblanc no SIHH 2008 com seu primeiro movimento in-house, o calibre MB R100. O modelo terá produção limitada a 25 peças em platina, 75 em ouro branco ou amarelo e 125 em ouro vermelho.
TJ: Os primeiros modelos da linha Rieussec estarão disponíveis no mercado a partir de Novembro/Dezembro 2008, e serão equipados com o calibre a corda manual MBR 100. Já a versão automática (calibre MBR 200) deverá estar disponível a partir de Fevereiro de 2009.
R&R: Há previsão de novos movimentos in-house?
TJ: Sim, com todos os investimentos que fizemos em P&D com este calibre, estamos desenvolvendo uma nova família de movimentos, com os calibres da linha Rieussec MBR 100 e MBR 200 como bases. Eles serão as bases sobre as quais iremos acrescentar novas funções no futuro. Esta família continuará a ser baseada na marca particular desta linha: a “smiling bridge” (dois discos giratórios unidos por uma ponte visível no mostrador, que desta forma parecem compor um sorriso) da linha Rieussec.
Esta linha será sempre uma homenagem a Nicholas Rieussec*, com este caráter particular da “smiling bridge” visível no mostrador. Isto não impedirá, contudo, que novas linhas de relógios Montblanc sejam criadas no futuro empregando estes movimentos como base, mas fora da família Rieussec.
* Nicolas Rieussec em 1821 concebeu um relógio com mostradores rotativos no qual um marcador com tinta na extremidade “escrevia” o final de um evento, o que permitia que ele controlasse a chegada em corridas de cavalos. A invenção recebeu o nome de “chronos” (tempo) e “graphein” (escrita).
R&R: Com os novos movimentos, a Montblanc continuará a lançar modelos com movimentos Minerva?
TJ: A linha de movimentos da Minerva é complementar aos nossos movimentos. Veja por exemplo, a linha de relógios da coleção Villeret 1858, que foi produzida pela Minerva de acordo com nossas especificações. Trata-se de uma linha produzida de maneira manual e em quantidades bastante limitadas, enquanto os novos movimentos da linha Rieussec foram nossa entrada no mundo da alta-relojoaria, mas com uma abordagem diferente em termos de quantidade e trabalho manual exigido, uma visão industrial. A linha Rieussec veio para complementar este “gap” que havia entre os calibres já produzidos nas linhas de relógios já existentes da Montblanc e a linha exclusiva e limitada Villeret 1858.
R&R: Então podemos deduzir que a Montblanc continuará a oferecer estes três ”níveis” de movimentos em suas linhas de relógios?
TJ: Em termos de movimentos, sim, agora temos 3 categorias diferentes de movimentos em nossas linhas de relógios, porém todos identificados como um produto Montblanc de alta qualidade:
- Movimentos standard de alta qualidade, mas semelhantes a outras marcas de qualidade (linhas Star, Sport, Timewalker, Summit e Profile).
- Movimentos da linha Rieussec, nossa entrada no mundo da alta-relojoaria com nosso próprio movimento “in-house”, exclusivo Montblanc.
- Villeret 1858, no ápice da alta-relojoaria, em quantidades bastante limitadas, e em uma faixa de preços também diferenciada.
R&R: Com relação à linha Villeret 1858, qual foi a receptividade do mercado?
TJ: Nossos clientes colecionadores receberam muito bem esta linha, pois todos já conheciam bem a Manufatura Minerva há muitos Anos, que por sinal está celebrando 150 Anos este Ano (sem interrupção, fato raro na história da maioria das marcas mais antigas da Suíça). Este é um grande momento para a Montblanc, e a Manufatura Minerva faz parte da história da relojoaria da Suíça, sendo que nós estamos respeitando toda esta tradição e qualidade em nossa linha Villeret 1858. Nossos clientes e colecionadores estão muito satisfeitos em saber que estamos respeitando esta tradição, sem mudanças drásticas, e mantendo todos os padrões de qualidade e exclusividade que a fizeram famosa entre os colecionadores. As quantidades serão limitadas entre 200 a 300 relógios por Ano para 2008 e 2009, e talvez chegando a um máximo de 400 movimentos no futuro, mas de maneira gradual e progressiva.
R&R: Gostaríamos de saber se é fato que a Montblanc não produzirá mais relógios masculinos a quartzo?
TJ: Não podemos responder com um simples “sim” ou “não”. Estou totalmente convencido que sempre haverá clientes masculinos que irão buscar um relógio a quartzo de qualidade. Faz parte de nossa missão oferecer vários modelos de relógios masculinos e femininos com diferentes movimentos para nossos clientes, e também é possível produzir relógios a quartzo com excelente qualidade, precisão e confiabilidade. Temos clientes que pedem relógios a quartzo, e trabalhamos para atender a esta clientela, com os mesmos padrões Montblanc, e com bastante sucesso.
R&R: No início da Montblanc Montre as linhas dos relógios eram bastante influenciadas pelos elementos de design clássicos das canetas da linha Meisterstück, o que dizer das inspirações atuais das novas linhas de relógios?
TJ: Sem dúvida no início, os relógios eram bastante inspirados na linha de canetas Meisterstück e também esta foi uma maneira de entrar neste novo mundo, o dos relógios, mantendo o “DNA” da marca. Somos uma companhia nova, com apenas 11 Anos de existência (Montblanc Montre), mas sempre tentamos manter a nossa maneira particular de produzir relógios, respeitando sempre os elementos de design que fazem parte de nossa marca. Nossos novos relógios, como a linha Rieussec são diferentes dos primeiros modelos produzidos, mas ainda são facilmente reconhecidos como um belo produto Montblanc. Com o tempo, nós estamos nos tornando cada vez mais uma empresa relojoeira, e não mais somente uma produtora de excelentes instrumentos de escrita, honrando não somente a tradição Montblanc, mas também a tradição da alta-relojoaria em geral, e isto se reflete em nossos relógios.
R&R: Quantas pessoas atualmente trabalham aqui na Montblanc Montre?
TJ: Temos por volta de 130 pessoas trabalhando, entre P&D, Design, Manufatura e Administração.
R&R: Por favor, nos informe sobre os principais mercados atuais da Montblanc Montre:
TJ: Não posso entrar em detalhes de números, mas existem mercados tradicionais na Europa onde somos muito fortes com instrumentos de escrita, mas ainda não tão fortes em relojoaria, e outros em que esta situação é bem balanceada. Nos novos mercados globais, como a China, por exemplo, onde temos mais de 50 boutiques próprias da Montblanc, somos percebidos desde o início como uma empresa relojoeira e joalheira que também oferece instrumentos de escrita. Na América Latina – eu inclusive estava no México na semana passada – também somos muito fortes, e considerados como relojoeiros de qualidade desde o princípio, competindo com as mais famosas e exclusivas marcas de relógios do mercado. Os novos mercados globais, sendo o México (8 boutiques próprias Montblanc) e a China bons exemplos, são aqueles com maior crescimento, enquanto também vemos um excelente potencial para o Brasil, principalmente com o aumento de nossa capacidade de produção, para melhor atender às demandas deste mercado.
R&R: Muito Obrigado!
TJ: De nada, e obrigado a você também!
*Carlos E. Tiburcio Ramos é colaborador de Relógios & Relógios e diretor da
Watch Cellar.
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