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Vista explodida do mecanismo de calendário perpétuo
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Esquema da ativação das indicações do calendário com came de pinos

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Grande Complicação Ref. 5207

terça-feira, 10 de março de 2009

Dentro do panorama atual da relojoaria, em que a grande maioria dos fabricantes busca chamar a atenção de seus clientes com modelos cada vez mais espalhafatosos, o novo Grande Complicação da Patek Philippe é uma notável exceção à regra. Sua aparência discreta representa um contraste marcante com a complexidade interior.

Até mesmo o turbilhão, que geralmente costuma saltar aos olhos de seus admiradores através de aberturas no mostrador, é discretamente mantido oculto em seu interior, disponível para deleite apenas de seu proprietário. Este pode calmamente apreciá-lo pelo fundo de safira transparente, ao retirar o relógio de pulso. Um relógio, sem dúvida nenhuma, para verdadeiros conhecedores.




Em sua linha “Relógios Excepcionais”, a Patek Philippe apresentou na feira Baselworld 2008 uma peça que eleva o calendário perpétuo a um novo nível de engenhosidade técnica: a Ref. 5207 com repetidor de minutos e um turbilhão, bem como um calendário perpétuo instantâneo com aberturas para indicação de dia, data, mês e ciclo de anos bissextos. Adicionalmente, a Ref. 5207 apresenta uma indicação de fases da lua e dia/noite.

Como todos os relógios de pulso Grande Complicação da Patek Philippe, este modelo não é um exemplar “peça única” para demonstrar o excepcional potencial da marca. Ao invés disso, ele se constitui em um enriquecimento sem precedentes da coleção “normal” de Grandes Complicações produzidas regularmente pela manufatura de Genebra. Contudo, devido à sua extrema complexidade, muito poucos desses relógios poderão ser produzidos ao longo de um ano.


Notável discrição

A mais notável faceta desta nova obra-prima altamente complicada da Patek Philippe é sua aparência discreta. À primeira vista, ela projeta a forma classicamente limpa e redonda de um Calatrava, com um mostrador balanceado e facilmente legível. Com um olhar mais atento, observa-se o “slide” do repetidor de minutos; o turbilhão, como em todos os relógios Patek Philippe, é visível apenas do fundo da caixa. O fato de que este relógio também incorpora um calendário perpétuo não é aparente até que o olho perceba a pequena janela à direita da indicação da fase da lua: ela exibe o ano. Deste modo, o assombro do contemplador cresce com cada descoberta até que fica claro que a filosofia da Patek Philippe para complicações é tornar a vida do dono do relógio mais cômoda. Mas uma característica somente pode ser observada à meia-noite: a mudança instantânea de todas as indicações do calendário. Esta não é uma função apenas agradável; é uma função adicional extremamente elaborada, uma complicação que compreende 212 componentes.

Dependendo do projeto do mecanismo, calendários mecânicos de relógios levam em torno de 20 minutos a várias horas para trocar todas as indicações. A maior quantidade de energia é gasta por volta da meia-noite de 28 de Fevereiro, quando o anel da data tem de ser movido à frente por nada menos que quatro dias para mudar para o 1° de Março. Era precisamente este o problema que preocupou os designers e mestres relojoeiros da Patek Philippe por um longo tempo. Eles levaram cinco anos trabalhando em um mecanismo que pudesse instantânea e simultaneamente trocar as indicações do dia, data, mês e ano bissexto à meia-noite. O coração de sua invenção é um mecanismo composto de alavancas e cames programadas para o qual duas patentes foram requeridas.

Todo o mecanismo do calendário perpétuo instantâneo foi projetado como um módulo que pudesse ser integrado em um movimento existente. No caso da nova Ref. 5207, o movimento base foi o calibre R TO 27 PS, a corda manual, o qual, adicionado do módulo, se tornou o calibre R TO 27 PS QI: R para repetição de minutos, TO de turbilhão, 27 pelo diâmetro de 27 mm, PS de pequenos segundos e QI para calendário perpétuo instantâneo (quantième perpétuel instantané).

O calibre R TO 27 PS QI, dotado do Selo de Genebra, possui 548 peças e 35 rubis. Sua reserva de marcha é de 48 horas.


A proeza da mudança do calendário

Os aficionados por relógios que procuram entender a mecânica relojoeira logo percebem que o problema chave é executar complexas funções com mínimo dispêndio de energia. No novo calibre, uma mola principal de 425 milímetros de comprimento enrolada em um tambor com diâmetro interno de 9,18 milímetros deve executar de forma confiável todas as funções do relógio por aproximadamente 48 horas – incluindo os avanços simultâneos e instantâneos das indicações do calendário à meia-noite. Um dos desafios deste caso particular é que as mudanças não envolvem o avanço de ponteiros delicados e leves. Neste relógio, as indicações são em aberturas com discos que asseguram excelente legibilidade, mas cujas massas têm ordem de magnitude bastante superior à de ponteiros. Apesar de tudo, as especificações para o novo calendário perpétuo instantâneo estipulavam que todas as indicações deveriam mudar de forma fiel, mesmo com uma reserva de marcha residual de meras 2 horas e meia. Para realizar esta difícil tarefa, a Patek Philippe desenvolveu um mecanismo de calendário para o qual duas patentes foram preenchidas (patente européia EP 1734419 A1 e patente suíça 01080/07).

A primeira inovação patenteada refere-se à ativação das indicações do calendário com uma grande came com pinos. Ele é controlado por um “rack” de quatro dentes (1) conectados à alavanca do mês (2) que segue a came com o programa anual. Esta came está conectada a cames de troca mais distantes via braços articulados, e controla a concomitante e instantânea mudança dos discos de data, dia, mês e ano bissexto.

Estes processos explicam o complexo formato desta grande came com pinos (3). Ela consiste de quinze partes individuais, algumas das quais são móveis. A programação anual conta com a came dos meses (6) e com uma came planetária variável para Fevereiro (4) que muda seu perfil a cada quatro anos.

A segunda patente envolve a proeza diária da mudança do calendário. Ao final dos meses com 31 dias, o anel da data precisa ser avançado apenas um dia. Se o mês tem 30 dias, o 31° dia no anel da data deve ser ignorado. Em anos bissextos, o anel deve ignorar dois dias na mudança de 29 de Fevereiro para 1° de Março. E, em anos normais, o movimento de avanço instantâneo deve ignorar três dias para saltar de 28 de Fevereiro para 1° de Março. Isto gradualmente aumenta o caminho e o desvio angular da grande came com pinos enquanto estreita o ângulo entre esta e o eixo sobre o qual a mola condutora age, dessa forma gradualmente enfraquecendo a força resultante da mola. Esta força declinante não pode ser compensada simplesmente com a escolha de uma mola mais forte, em primeiro lugar porque, ao final dos meses longos, isto aumentaria o risco do anel de data saltar direto para o 2° ou 3° dia do mês, ao invés de parar no 1°. Assim, os engenheiros tiveram que encontrar uma solução para avançar o anel de data com a mesma força controlada independentemente do número de dias de qualquer mês.

A Patek Philippe inventou um sistema com duas molas igualmente fortes (5) que agem em diferentes direções.

Nos meses longos, a grande came com pinos é conectada apenas à primeira mola (5.1) devido a seu ângulo inclinado.

Sua energia é suficiente para avançar o anel de data (e as outras indicações do calendário) um ou dois dias de modo controlado e instantâneo. Mas quanto mais a came com pinos é desviada, mais fraca se torna a força da primeira mola. Quando um certo ângulo é excedido, a grande came com pinos entra em contato com a segunda mola (5.2) cujo vetor de força se desvia por volta de 45° do vetor da primeira mola: quanto mais fraca a força exercida sobre a came com pinos pela primeira mola, mais forte o efeito da segunda mola. Isto assegura que, mesmo ao final de Fevereiro, as indicações do calendário são avançadas com uma quantidade de energia controlada. Esta é a segunda inovação patenteada (patente suíça No. 01080/07).

Para resguardar o delicado equilíbrio de forças, a indicação da fase da lua é avançada separadamente às 2:00. Nesta hora, a grande came com pinos está completamente em repouso, então a amplitude do balanço não é afetada por movimentos do mecanismo do calendário.


Repetidor de minutos – a música do tempo

O repetidor de minutos é considerado a rainha de todas as complicações. Com um mecanismo composto de diferentes “racks” e caracóis, pequenos martelos e delicados gongos, ele impõe formidáveis desafios aos relojoeiros, especialmente em vista do confinado espaço de um relógio de pulso. Contando com mais de 160 anos de experiência em repetidores, a Patek Philippe desenvolveu esta arte a um considerável grau de perfeição. Então, quando o dono de uma Ref. 5207 ativa o slide e escuta o relógio quando ele inicialmente marca as horas no gongo grave, depois os quartos em ambos os gongos, e finalmente conta os minutos passados desde o último quarto no gongo mais agudo, o resultado acústico é de tirar o fôlego.

Levaram-se muitos anos de pesquisa para se desenvolver a melhor liga de aço e otimizar o formato e a junção dos gongos, em cooperação com o internacionalmente respeitado Swiss Federal Institute of Technology em Lausanne. Entre conhecedores, a sonoridade e a reverberação dos gongos nos repetidores da Patek Philippe são consideradas absolutamente inigualáveis. Não é de surpreender que o presidente da manufatura, Philippe Stern, repetidamente escuta o som de cada um desses relógios raros antes de decidir se ele está pronto para entrega ou se deve retornar às oficinas para afinação. O som, que para Philippe Stern se constitui na assinatura acústica da Patek Philippe, foi gravado e digitalizado em uma camada anecóica para ser preservado como uma referência.


O turbilhão

O terceiro destaque do Patek Philippe Grande Complicação Ref. 5207 é o escapamento turbilhão, que mantém a marcha do relógio extremamente estável mesmo em posições verticais. Ele é uma construção com a qual muitos conhecedores das complicações da Patek Philippe estão familiarizados e tem uma gaiola de aço que gira em seu próprio eixo uma vez por minuto. Ele consiste de 69 peças individuais e pesa meros 0,3 gramas. Ele é uma obra de engenharia micro-mecânica e superior acabamento. Todas as peças em aço são separadamente chanfradas e polidas à mão. Como todos os relógios Patek Philippe com turbilhão, a Ref. 5207 também recebe o certificado de cronômetro emitido pelo C.O.S.C. (Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres). Enquanto o principal propósito de um turbilhão é melhorar a precisão da marcha, a Patek Philippe impõe exigências ainda mais rígidas aos seus modelos com turbilhão, com relação às do C.O.S.C.

Ajustadores, relojoeiros especialmente treinados, são responsáveis pelo ajuste da precisão destes movimentos. Eles levam pelo menos uma semana para efetuar o ajuste fino de cada calibre antes que ele seja enviado ao C.O.S.C. para a série de testes que dura duas semanas. Após sua aprovação nos testes do C.O.S.C., cada cronômetro é submetido a Philippe Stern, que pessoalmente decide se ele merece a inscrição “Patek Philippe Tourbillon” ou se todo o procedimento precisa ser repetido. Uma vez que as especificações da Patek Philippe são ao menos duas vezes mais exigentes que as do C.O.S.C., não é incomum para um movimento sofrer um ajuste de precisão uma segunda vez e então novamente ser enviado para o C.O.S.C. O número serial do movimento é mencionado no certificado com propósito de identificação. O mesmo número serial também é escrito no mostrador do relógio, mas fora isso, nada mais sugere que o relógio incorpora esta distinção horológica.

A gaiola do turbilhão é lubrificada com óleo que pode reagir à radiação ultravioleta da luz solar e poderia envelhecer prematuramente se exposto a ela. Por esta razão, a Patek Philippe deliberadamente não expõe o turbilhão através do mostrador. Contudo, o sólido fundo em platina do relógio pode ser substituído por um fundo em safira incluído, a fim de que nas horas tranqüilas, com o relógio fora do pulso, o feliz proprietário de uma Ref. 5207 tenha sempre a opção de assistir à fascinante progressão planetária do balanço enquanto ele gira no centro do turbilhão.


Platina adiciona peso à Ref. 5207

Embora a produção do novo Patek Philippe Ref. 5207 seja limitada a poucas peças por ano, este relógio é uma impressionante prova de que relógios de pulso Grande Complicação não são apenas ocasionais demonstrações das capacidades na manufatura de Genebra. A Patek Philippe possui a competência e capacidade de trabalhar continuamente no pináculo da tecnologia. Isto também se aplica à sua clássica caixa em platina de 41 milímetros de diâmetro e 16,25 de diâmetro, no estilo Calatrava. Usando a tradicional técnica de conformação a frio, ela é produzida in-house com prensas da alta tonelagem. Seus flancos e o slide do repetidor de minutos são gravados à mão, e como todas as caixas de platina Patek Philippe, ela traz um discreto diamante Top Wesselton com aproximadamente 0,02 carats entre as garras, na posição das 6 horas.

A pulseira, em couro de jacaré brilhante com escalas retangulares, é costurada à mão e possui um fecho de fivela em platina.

Para um calendário perpétuo, o mostrador em ouro 18 K de inédita tonalidade dourada sob o cristal suavemente curvo revela um arranjo incomum de indicações. As aberturas com molduras polidas mostram o dia, data e mês em um arco entre 10 e 2 horas. A indicação da data é particularmente proeminente. O submostrador de segundos às 6 horas tem uma abertura para as fases da lua, uma poética mas altamente precisa indicação que desvia da lunação real apenas um dia a cada 122 anos. À sua esquerda está uma pequena abertura para a indicação dia/noite. A abertura no lado oposto mostra o ciclo de anos-bissextos com numerais romanos de I a IV.

A despeito das muitas indicações, o mostrador é bastante organizado e despretensioso, dado tudo o que ele esconde. Mais uma vez, a Patek Philippe teve sucesso em apresentar surpreendentes complicações horológicas em um formato compatível com o mundo real. Muito embora a Ref. 5207 esteja ranqueada como o segundo mais complicado relógio de pulso da Patek Philippe, ele é decididamente uma companhia muito útil na vida diária de seu feliz proprietário.


Uma obra-prima muito exclusiva

Além do fato de sua grande complexidade limitar sua produção a poucas unidades anuais, seu preço também contribuirá para torná-lo uma peça ainda mais exclusiva. 725.000 Francos Suíços é o valor que terá que desembolsar o pretendente a essa fantástica criação. Mas, diante da fila de espera que costuma ser formada para a aquisição dos modelos complicados da Patek Philippe, certamente não é uma quantia que afugentará os seus privilegiados clientes.




Publicado originalmente na Revista Pulso no. 60, Janeiro/2009
 
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