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Entrevista com Laurent Lecamp

terça-feira, 30 de março de 2021

Durante o recente encontro virtual do Montblanc 4810 Club, entrevistamos o novo Diretor Geral da Divisão de Relógios, Laurent Lecamp.


Laurent Lecamp, anteriormente Vice-Presidente executivo de vendas internacionais e Membro do Conselho da Carl F. Bucherer, assumiu a função de Diretor Geral da Divisão de Relógios no dia 1ª de janeiro de 2021, trazendo novas visões em termos de estratégia, design e inovação para a Montblanc.

[center][img]http://www.relogioserelogios.com.br/images/noticias/3761/Laurent_Lecamp.jpg[/img][/center]


César Rovel - Relógios e Relógios
Olá Laurent, tudo bem? É um prazer vê-lo na Montblanc, parabéns pela primeira apresentação e pela primeira coleção. Desejo a você muito sucesso na Maison.

Laurent Lecamp
Muito obrigado!


Para começar, você poderia nos contar algo sobre você e como se envolveu no mundo da relojoaria?

Foi por acaso... Todos contariam uma história diferente: “Eu era um grande fã de relógios” ou “minha família estava envolvida no negócio de relógios” ou “eu era um grande fã de relógios e montava movimentos quando tinha três anos... ” Nada disso... Foi por acaso, quer dizer, eu trabalhava na indústria de luxo em lojas de champanhe, depois comecei a trabalhar para a Porsche na Alemanha e depois voltei para a Suíça e ouvi falar no rádio sobre Michel Jordi… O sujeito estava explicando que Jordi tinha desenvolvido empresas fabulosas na Suíça, foi duas vezes ao topo, caiu duas vezes e estava criando uma empresa pela terceira vez, então pensei: Uau, excelente, preciso disso, um empreendedor, e entrei em contato com ele. Acabei escrevendo uma carta de quatro páginas e ele me respondeu: “Laurent, nunca recebi uma carta assim!” E eu não falava sobre relojoaria... explicava sobre minha paixão pelo esporte, pela natureza, por ser positivo, por acreditar na troca de energia e é exatamente como acho que podemos trabalhar juntos. Fiquei muito surpreso, consegui uma entrevista com ele e sua esposa por horas apenas sobre esportes e ele me disse “Tenho certeza que você e eu seremos uma excelente parceria” e foi assim que comecei a trabalhar com Michel Jordi na Suíça, na indústria relojoeira.


Não sei se você se lembra quando nos conhecemos em Genebra em 2007, você trabalhava para Michel Jordi, nos conhecemos no Beau Rivage.

Sim, com certeza, estávamos apresentando a coleção Heritage Twins, aquela com os dois níveis, não é?


Sim, isso mesmo. Depois, te encontrei quando você estava com a Cyrus, alguns anos depois, em Basel.

Com certeza, Cyrus foi minha primeira empresa própria, a marca que criei em parceria com meu primo Julien. Vendi em 2014, foi uma história incrível.


Conte-nos um pouco sobre as novidades da Montblanc em 2021.

Na verdade a mais importante para mim é o Geosphere 1858 Deserto de Gobi, dedicada a Reinhold Messner. Messner atualmente tem 76 anos, mas quando falo com ele tenho a sensação de estar com alguém que tem 30 ou 40 anos, cheio de energia, cheio de sonhos, um cara muito inteligente. Quando falei com ele entendi por que decidimos criar uma peça dedicada ao que ele fez. O Geosphere, em primeiro lugar, é dedicado ao mundo da exploração. Fizemos pelas montanhas, pelos glaciares, pela floresta e pelo deserto; e o mais interessante é que tudo o que ele fez no deserto está no relógio. Por exemplo, ele cruzou a região de Bayanzag e temos a mesma paisagem no verso da caixa do relógio: o famoso Flaming Cliffs. É um deserto incrível, com 95% de pedras. E ele descreveu os diferentes tipos de pedras, e colocamos todas as cores no mostrador, na caixa, no aro e na pulseira. Então, tudo é um lembrança do que ele fez. Além das duas esferas, que têm oito pontos vermelhos, os picos mais altos do mundo escalados por Messner. Então, é como se o currículo de Messner estivesse no meu pulso todos os dias. Em outras palavras, é por isso que amo esta peça, ela conta uma história verdadeira, não uma narrativa falsa. É real. E Messner, ele tem o relógio no pulso todos os dias, ele adora o relógio. E ele me disse: “é parte de mim, eu gosto”. É por isso que é meu favorito. Claro, sou um grande fã dos movimentos da Minerva. Em primeiro lugar, porque a Minerva, desde 1858, tem uma história contínua. Nunca desapareceu, nunca parou de funcionar, nunca quebrou, foi sempre positivo, uma empresa com 162 anos. Fiquei muito impressionado com isso. E os movimentos, com cada componente montado por um relojoeiro de A a Z, o acabamento, o Maillechort, os elementos tradicionais no cronógrafo, é realmente fascinante. Então, para mim, essa é minha escolha também.


Você começou na Montblanc recentemente, teve tempo de se envolver na criação dessas novidades?

Não, não nessas novidades. Elas foram desenvolvidas por minha equipe antes de eu entrar. E foi um trabalho muito bom e muito inspirador para o futuro. Mas ao mesmo tempo, desde janeiro, eu estava trabalhando em alguns projetos, porque para ser honesto com você, no ano passado, nos últimos meses, eu já estava trabalhando em projetos para a Montblanc, antes de entrar. E estou trabalhando neles agora com minha equipe, seguindo a mesma, eu diria, estrutura em termos de continuidade clássica, mas adicionando um toque diferente. Então, em alguns meses você verá minha própria visão da marca.


Você trabalhou em marcas menores e em sua própria marca. Quais os desafios de trabalhar em uma marca pertencente a um grande grupo?

Trabalhei para marcas diferentes, independentes, como na distribuição da Corum e na da Graham, desenvolvi a Cyrus, mas a primeira experiência de grande grupo foi no início da minha carreira, relacionado à champanhe, para o grupo LVMH. E a seguir tive uma experiência em um grande grupo familiar, na Boucherer. Então, ainda é uma verdadeira empresa familiar, mas é muito grande porque é a número um em termos de varejo de luxo no mundo todo. E foi aqui que conheci uma grande estrutura, porque é um grupo suíço-alemão. Então, isso significa que tudo é extremamente bem organizado. Dispunha de uma grande estrutura, é claro, mas todos os dias havia um novo incêndio e eu era um bombeiro e tinha que encontrar uma solução. Então, conheci os dois mundos, eu diria.


Você coleciona relógios? Se sim, quais são suas preferências?

Oficialmente, sim. Em deveria dizer: com certeza, tenho algumas centenas, vários Patek's... Mas vou te dizer a verdade: tenho alguns relógios, não muitos. Não é uma questão de colecionar, eu diria. Quando encontro algo muito interessante e diferente, eu pego. No momento, por exemplo, não posso citar as marcas, mas tenho cinco marcas diferentes. E eles têm formas diferentes, com diferentes tipos de mecanismo, todos movimentos de manufatura, pois sou um grande fã de movimentos de manufatura e todos eles compartilham uma história diferente. É disso que eu gosto, porque acho que o relógio depende de como me sinto hoje. Se eu estiver muito feliz, terei uma forma especial, com um mostrador especial e tudo o mais. Se for um dia difícil eu levaria algo com mais cores para me dar mais alegria, sabe, então depende. Tenho um muito caro mas o que prefiro é um de 200 euros porque é o que ganhei do meu pai quando tinha 15 anos, então vejam que o maior valor de um relógio é o emocional.

[center][img]http://www.relogioserelogios.com.br/images/noticias/3450/1858_Geosphere_119286_2.jpg[/img][/center]
O primeiro modelo Geosphere, lançado em 2018


Quais são as suas complicações preferidas?

Adoro complicações que trazem algo novo. Quer dizer, fazer uma complicação só por fazer é um absurdo, mas uma vez que você desenvolve uma complicação, especialmente na faixa intermediária como o Geosphere, que nunca foi desenvolvida antes, não existia exceto pela Montblanc, nesse caso eu gosto, especialmente quando essa complicação pode contar uma história como os picos mais altos do mundo, como o Geosphere.


Você tem algum hobby?

Oh sim, o principal é a corrida. Adoro correr, especialmente nas condições mais extremas. Há dois anos, corri uma das três maratonas mais difíceis do mundo, 42 graus negativos, era na Sibéria e acredito que poderia desaparecer correndo no gelo. Era um lago congelado com dois metros de gelo, algo completamente louco. Eu estava correndo com um amigo meu, um russo, atleta campeão que consegue correr mais de 2.000 quilômetros por mês. É uma loucura e estávamos correndo juntos. Foi uma experiência incrível, sabe, sempre me lembro quando comecei a correr no lago, vi a outra ponta do outro lado, separada por 42 quilômetros, vi a linha de chegada porque o ar estava puro, sem poluição, e isso sempre estará em meu coração, em minha mente e em meus olhos, nunca esquecerei. É por isso que a corrida sempre dá a possibilidade de descobrir coisas novas, novas palavras, novas regiões e agora estou treinando para as duas outras mais difíceis do mundo também, e espero ser o primeiro suíço-francês a executá-las. E o fato é que farei isso com relógios Montblanc em meus pulsos, o Summit e um mecânico, provavelmente o Geosphere.


Qual é a sua visão da relojoaria Montblanc para os próximos anos?

Em primeiro lugar, manter relacionamento com pessoas como você, porque sem jornalistas e conhecedroes é muito difícil desenvolver qualquer coisa e eu realmente preciso do seu apoio, das dúvidas, conselhos e o que você acha da sua própria experiência com a Montblanc, de todo esse intercâmbio. A Montblanc é como uma grande família, e queremos que você saiba que desenvolveremos coisas para pessoas como você, então espero ser capaz de manter esse relacionamento com as pessoas. A visão é trabalhar com a minha equipe em conjunto e não como alguém que quer impor suas próprias ideias, porque para mim é um mundo completamente outro, quando trabalhamos todos juntos e minha visão é claramente manter o foco 100% na manufatura e adicionar mais inovação com um toque diferente; é exatamente o que eu quero. Quero criar um toque diferente nos produtos, mesmo para o nível de entrada e médio. Eu quero que as pessoas digam “oh, isso é clássico, mas há algo a mais e eu reconheço que é um relógio Montblanc”. Então, está claro o que eu gostaria de fazer juntamente com a equipe.


Muito obrigado pelo seu tempo e pela sua consideração. Gostaria de lhe dar novamente os parabéns por estar na Montblanc e pela nova coleção. Espero que possamos nos ver pessoalmente nos próximos meses.

Eu gostaria de agradecer por estar aqui. Sou um recém-chegado, agradeço muito. Então, você não precisa dizer obrigado para mim. Eu tenho que te agradecer primeiro, realmente. E espero encontrá-lo em breve para discutir mais profundamente e trocar ideias e ter a sua opinião sobre a nova coleção.

Vai ser fantástico! Obrigado e até breve!
 
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