A repetição de minutos e as horas saltantes são complicações clássicas na relojoaria. A primeira remonta aos tempos em que a luz elétrica não existia e mostradores luminescentes eram desconhecidos. Para evitar que seu dono tivesse que acender sua lamparina para ler as horas no escuro, a pressão de um botão na lateral do relógio de bolso ativava um complexo mecanismo que “batia” as horas.
As horas saltantes constituem um dispositivo bastante elegante em que um disco «salta» instantaneamente para mostrar o início de uma nova hora. Ou seja, é um precursor dos modernos mostradores digitais. Contudo, como a repetição de minutos, é um mecanismo totalmente mecânico que requer a superação de grandes desafios em sua construção.
O novo Jules Audemars Horas Saltantes e Repetidor de Minutos, apresentado durante o SIHH 2007, em Genebra, é um relógio que combina as duas complicações em um desenho clássico e elegante, em que a indicação das horas saltantes, os ponteiros e numerais arábicos em azul compõem um mostrador de grande harmonia. É um modelo que literalmente se constituirá em música para os ouvidos de privilegiados conhecedores.
Horas musicais
Os relojoeiros do Vallée de Joux, na Suíça, sempre nutriram grande paixão e um inato talento para mecanismos de sonorização. Isto talvez se explique porque, no silêncio das montanhas e na serenidade dos longos invernos nevados, o som cristalino destas maravilhas musicais em miniatura seja ainda mais profundo, de acordes mais significativos. Ou possivelmente porque a complexidade de seu mecanismo desafie o seu lendário espírito inventivo.
Fundada em Le Brassus, em 1875, a Manufatura Audemars Piguet logo demonstrou sua habilidade na arte de relógios sonorizados. Em 1889, ela apresentou um modelo “Grande Complicação” equipado com um mecanismo que batia as horas, quartos e minutos. Ela também criou uma série de inovações técnicas para miniaturizar estes mecanismos: em 1891, surgiu um repetidor de minutos medindo meros 18 mm de diâmetro; e, em 1892, o primeiro repetidor de minutos em um relógio de pulso.
Um repetidor de minutos toca uma nota grave para cada hora, uma nota dupla grave e aguda para os quartos, e uma aguda para cada minuto que decorreu desde o último quarto. Ele requer um mecanismo particularmente sofisticado, uma vez que o relógio deve não apenas ser afinado como um instrumento musical, mas também deve “saber” a qualquer momento quantas notas ele deve tocar.
Ao longo do século XX, este “know-how” foi consolidado em relógios muito cobiçados por colecionadores, em modelos que freqüentemente combinavam outras complicações. Em 1924, fugindo ao padrão da leitura analógica do tempo, a Manufatura de Le Brassus lançou um relógio de bolso com horas saltantes e pequenos segundos às 6 horas, caracterizado pela elegância do estilo Art Deco. Em 1992, as complicações foram unidas em um relógio de pulso.
Um Repetidor de Minutos em estado de arte
O Audemars Piguet Calibre 2907 abrigado no novo Jules Audemars Horas Saltantes e Repetidor de Minutos foi claramente inspirado pelo movimento do histórico modelo de 1992, embora a arquitetura tenha sido inteiramente redesenhada para se adequar às novas dimensões de caixa. A Audemars Piguet implementou soluções inovadoras para acomodar o movimento relativamente grande em um diâmetro de apenas 43 mm.
Unindo «expertise» tradicional e tecnologias de vanguarda, a Manufatura também enriqueceu o mecanismo audível com todos os detalhes técnicos que distinguem seus repetidores de última geração. Em particular, o movimento foi equipado com um dispositivo que elimina qualquer vazio «audível» quando o relógio não precisa tocar um quarto (por exemplo, às 9:13); a seqüência de 9 horas e 13 minutos é tocada suavemente e sem qualquer interrupção. Repetidores de minutos geralmente excluem qualquer ajuste manual da hora quando o mecanismo de sonorização está em operação, já que isto poderia danificar o movimento. Para solucionar este problema, a Audemars Piguet desenvolveu um sistema que desengata o sistema de ajuste da hora enquanto o relógio está tocando. Este conjunto de inovações, portanto, melhora a confiabilidade e a segurança dos repetidores de minutos, enquanto faz com eles permaneçam fiéis à estética dos modelos vintage.
O mecanismo de horas saltantes também foi aperfeiçoado. Para aumentar o tamanho dos numerais sem que o disco ficasse muito grande para o movimento, os relojoeiros tiveram que repensar o posicionamento do disco e movê-lo em direção ao centro do calibre.
Uma face contemporânea
Em termos de estética, a Audemars Piguet redesenhou a caixa redonda da coleção Jules Audemars dentro de um espírito contemporâneo. O aro mais estreito assegura uma grande abertura para o mostrador, criando uma fina impressão de espaço e leveza. Os reflexos das superfícies finamente polidas e escovadas em ouro rosa ou platina destacam as linhas puras da caixa com asas suavemente integradas à pulseira. O mostrador também reinterpreta o classicismo da coleção em uma composição balanceada. Sua base opalina é adornada com um trilho de minutos e de numerais arábicos azuis com apelo moderno e dinâmico. A abertura da hora, com seu disco que salta instantaneamente um número a cada sessenta minutos, possui um acabamento chanfrado. Os minutos são indicados por um ponteiro central azulado termicamente no estilo “Poire (pêra) Paris”. Os pequenos segundos possuem um submostrador espiralado na posição das 6 horas com uma estrutura em recesso, decorado por um motivo em trilho e um original ponteiro em bastão vazado em uma extremidade.
O espírito do Vallée
O fundo em cristal de safira permite que se admire o Calibre 2907 a corda manual com suas 412 peças e balanço com 21.600 vibrações por hora. A arquitetura deste movimento possui as características do estilo do Vallée de Joux. O perfeito alinhamento dos rubis do trem de três engrenagens forçou os relojoeiros a reconstruir todo o trem. A forma arredondada da maioria das pontes chega a parecer ter sido desenhada com um compasso, começando com a roda da coroa. O acabamento das várias peças é feito dentro das mais finas tradições da região, incluindo superfícies com polimento espelho e o cuidado devotado aos ângulos internos e externos. Todas as peças são finamente chanfradas e tratadas com ródio, e, dependendo da peça, decoradas com “côtes de Genève”. Em um refinado detalhe de estilo, as “côtes de Genève” que adornam as pontes são alinhadas com os rubis do trem de engrenagens. Esta belíssima sinfonia mecânica é envolvida pelos dois gongos do repetidor de minutos que são percutidos pelos dois pequenos martelos.
Uma complicação muito especial
Muitos farão referência à repetição de minutos como um anacronismo, de pequena utilidade prática, o que não deixa de ser verdade em nossa era, mas o fato é que complicações como essa aumentam ainda mais o brilho da relojoaria mecânica nos dias de hoje.
Mesmo diante de toda a tecnologia disponível, a complexidade de sua execução ainda desafia os mestres relojoeiros mais habilidosos e a torna uma complicação presente apenas em relógios muito especiais.
O som cristalino gerado por um repetidor de minutos emociona e faz destas pequenas peças obras de arte, além de se constituir em uma vívida lembrança do cotidiano de nossos antepassados.
Preço estimado de venda
Ouro Rosa: US$ 204,900.00
Platina: US$ 222,300.00
Publicado originalmente na Revista Pulso no. 54, Janeiro/2008
|