Jehan-Jacques Blancpain
A decisão inicial de entrar para o promissor comércio relojoeiro foi de Jehan-Jacques Blancpain. Ele talvez tenha percebido mais claramente que outros as vantagens que esta nova atividade oferecia. Há pouca dúvida de que por volta de 1735, por exemplo, o primeiro andar de sua casa na vila de Villeret, ainda hoje existente, servia como uma oficina relojoeira. A empreitada deveu seu rápido sucesso, ao menos em parte, a sua política generosa com relação ao aprendizado. Jehan-Jacques e seus sucessores viam sempre como seu dever passar o know-how de seu ofício à geração seguinte.
Rumo ao crescimento
Enquanto os anos passavam, Jehan-Jacques Blancpain preocupava-se com a sua sucessão. O filho Isaac trabalhava ocasionalmente com seu pai, mas ele ainda desejava lecionar. Com o vigoroso crescimento da empresa, no entanto, era necessário alguém completamente dedicado ao negócio - ao filho de Isaac, David-Louis, nascido em 21 de dezembro de 1765, coube a tarefa. Ele juntou-se à companhia no final do século, entregando relógios Blancpain a clientes em países vizinhos. Sempre que as oficinas tivessem produzido seis dúzias de relógios, saía para vendê-los nas cidades da França e da Alemanha.
A manufatura
Em 1815, o filho mais velho de David-Louis Blancpain, Frédéric-Louis, tinha se tornado um especializado relojoeiro. Ele transformaria gradualmente a empresa baseada no trabalho manual em uma desenvolvida operação industrial. Ela fazia então algumas de suas próprias bases de movimento, e era assim uma "manufatura integrada". Ao longo dos anos, mais e melhores ferramentas permitiram a Blancpain desenvolver sua produção e firmemente melhorar a qualidade do produto.
E. Blancpain & Fils
Em 1830, Frédéric-Louis passou o negócio para seu filho de 19 anos, Frédéric-Emile. Para evitar qualquer confusão com seu pai, o jovem começou a usar seu segundo nome somente, e a companhia tornou-se "E. Blancpain". Após a morte de Frédéric-Emile em 1857, seus filhos Jules-Emile, Nestor e Paul-Alcide tornaram-se sócios em uma companhia agora chamada "E. Blancpain & Fils". Treinado como relojoeiro na Suíça e no exterior, Jules-Emile assumiu a gerência da companhia.
Tempos de mudança
Naqueles dias, o trabalho por tarefa tradicional ainda era praticado nas fazendas da área, embora a produção em lote já conduzisse a alguma divisão de trabalho. Mas a competição feroz e a pressão por preços prenunciavam uma mudança radical. Como em toda parte, na Suíça não havia como se negar que a idade da máquina havia chegado, com sua demanda por precisão e produção sempre maiores. Assim, no final do século XIX, a Blancpain construiu uma usina no rio Suze para aproveitar sua energia hidráulica e alimentar um gerador para fornecer energia elétrica às oficinas.
O automático Harwood
Em 1926, Frédéric-Emile Blancpain, trabalhando em colaboração com o relojoeiro inglês John Harwood, criou um novo modelo que roubou a cena na feira de Basel naquele ano. Era nada menos que o primeiro relógio de pulso automático do mundo. O revolucionário movimento que Blancpain criou apresentava um desenho com 15 rubis e 12 horas de reserva de marcha. A ele foi concedida uma patente.
Embora o Blancpain Harwood fosse celebrado por seu pioneiro sistema de corda automática, suas inovações não paravam por aí. Como os modernos métodos de vedação ainda não haviam sido desenvolvidos, a coroa era vista como a principal fonte de poeira e umidade, ambos inimigos dos movimentos de relógios mais finos. Blancpain Harwood concebeu um inteligente sistema que dispensava a coroa. O ajuste da hora do relógio era feito girando-se o aro do relógio. Havia também um modelo "tonneau" com uma "coroa" no fundo da caixa.
Rayville Ltd.
Antes da Primeira Guerra Mundial, Frédéric-Emile Blancpain (o segundo a levar este nome) conduziu a companhia em direção ao futuro – o relógio de pulso. No início dos anos 1930, fez Blancpain entrar nos anais dos relógios de pulso automáticos ao lançar o "Rolls", um relógio de pulso retangular automático de Léon Hatot que usava a "roller winding", por meio da qual o movimento podia se mover para a frente e para trás na caixa - uma idéia revolucionária naquele tempo.
Mas sua morte inesperada em 1932 terminou dois séculos de gerência da família Blancpain, uma saga que se estendeu por sete gerações. Como a única criança de Frédéric-Emile, sua filha Berthe-Nellie, não teve nenhum desejo em continuar, em junho de 1933 a firma passou ao assistente mais próximo de seu pai, Betty Fiechter, e a seu associado, André Léal. Eles assumiram seus recursos e responsabilidades e continuaram o negócio sob o nome "Rayville Ltd. [anagrama de Villeret], sucessores de Blancpain". No início dos anos 1950, Betty Fiechter e sua equipe lançaram o relógio de mergulho automático “Fifty Fathoms” e o primeiro Ladybird, cuja apresentação em 1956 causou sensação nos círculos relojoeiros: seu minúsculo movimento redondo era o menor de sua geração.
Fifty Fathoms
Usado por Jacques-Yves Cousteau e sua equipe durante as filmagens de "The World of Silence" (Palma de Ouro em Cannes em 1956), o Blancpain Fifty Fathoms também foi selecionado, devido a sua superioridade técnica, por diversos exércitos, entre outros o norte-americano, francês, alemão e italiano.
O SSIH
Rayville-Blancpain permanecia em considerável extensão uma operação manual, produzindo alguns milhares de relógios por ano, com métodos tradicionais. Mas como faltavam recursos de marketing, seu futuro era incerto. Apesar desta situação, ou talvez por causa dela, decidiu-se aceitar a proteção de uma empresa controladora constituída em 1930, chamada SSIH (Swiss Watch Industry Corporation Ltd.). Em 1971, uma nova equipe de gerência da SSIH decidiu por uma mudança radical no negócio e na estratégia industrial, em que não havia lugar para produtos mecânicos de nicho. Como a Blancpain se negou a sobreviver como uma vendedora de produtos a quartzo, logo desapareceu do mercado. Em retrospectiva, isto provou ser uma bênção disfarçada. Como a Bela Adormecida, Blancpain caiu em um sono profundo.
A renovação
Em um momento em que a indústria suíça do relógio apostava tudo no quartzo e começava a destruir seu equipamento de produção e, em parte, a cultura do relógio mecânico, Jean-Claude Biver e Jacques Piguet, que concordavam que os relógios mecânicos tradicionais ainda possuíam um promissor e surpreendente lugar na vida, combinaram forças em 9 de janeiro de 1983 para reviver a Companhia Blancpain dois séculos e meio após sua fundação. O detalhado exame de todos os registros disponíveis confirmou a Jean-Claude Biver que lá nunca havia sido produzido um relógio a quartzo. E nenhum existiria no futuro. Jacques Piguet, filho de Frédéric Piguet, o reputado fabricante de movimentos brutos, ou bases, estava pronto para contribuir com sua muito considerável perícia.
O Vallée de Joux
Muitos especialistas previam a morte do relógio mecânico devido à chegada do quartzo. Porque a arte e o know-how do relojoeiro tradicional estavam caindo rapidamente em declínio, e como as oficinas da Blancpain em Villeret tinham sido tomadas pela Omega, os dois homens decidiram-se por realocar a Blancpain onde as tradições da manufatura ainda se mantinham vigorosas. Estabeleceram-se finalmente no Vallée de Joux, Suíça ocidental, um centro de fina relojoaria desde meados de 1700 e ainda hoje o local de nascimento de 90% de todas as complicações mecânicas topo de linha.
Lá, em uma vila chamada Le Brassus, está uma antiga casa da família de Piguet, habitada pela alma da relojoaria - o lugar para a nova casa da Blancpain. Ela produziria agora relógios feitos de maneira mais genuinamente tradicional, similares no espírito àqueles que Jehan-Jacques Blancpain e seus descendentes produziram há mais de dois séculos, há algumas centenas de quilômetros de distância.
Revivendo a tradição
Vitais informações e segredos relojoeiros foram conservados a tempo, tesouros do passado que não tinha sido destruídos ou deixados de lado. Na Frédéric Piguet no Vale do Jura, um grande número de velhos movimentos foram encontrados para os quais não havia nenhum desenho. Após tê-los estudado individualmente, desenhos foram criados para cada um destes movimentos.
Voltando para o passado para reviver os primórdios da relojoaria como ela existiu entre as fazendas isoladas do Jura, Blancpain pôde permitir que a cultura da relojoaria mecânica resistisse, bem como a tradicional arte do relojoeiro da região e de um país inteiro.
O calibre 1735
Em 1991, a Blancpain apresentou simultaneamente seis obras-primas da arte relojoeira abrigadas em seis caixas idênticas. Para completar, um modelo que marcou a história da relojoaria: o 1735, reunindo as seis obras-primas em um único relógio - o mais complicado relógio de pulso já feito até então. |